Alterações Sensoriais na Perturbação do Espetro do Autismo

Os estudos demonstram que cerca de 88% das crianças com Perturbação do Espetro do Autismo (PEA) apresentam problemas no processamento da informação sensorial (Schaaf & Mailloux, 2015).
 
No DSM-5, as alterações sensoriais (hiper ou hiporreatividade ao input sensorial) são consideradas critério de diagnóstico, estando incluídas no domínio Padrões de comportamento, interesses e atividades restritos e repetitivos, tendo sido reconhecidas pelo seu impacto no bem-estar e aprendizagem das crianças com PEA. Anteriormente, estas alterações eram consideradas uma comorbilidade da patologia.
 
As alterações sensoriais que cada criança com PEA apresenta são variáveis e heterogéneas, não existindo por isso um padrão único. A literatura descreve défices ao nível do registo sensorial, da modulação/reatividade sensorial, da integração bilateral motora e praxis. Contudo, ao nível da investigação, as alterações na modulação/reatividade são as mais documentadas.
 
Embora a dispraxia não seja incluída em nenhum critério de diagnóstico, um crescente número de evidências indica que dificuldades significativas ao nível da praxis são comuns nesta perturbação, podendo vir a ser considerado como tal (Dowell et al., 2009; MacNeil & Mostofsky, 2012).
 
Estas alterações podem tornar muito complexa a compreensão das sensações do corpo e a interpretação do que está a acontecer no ambiente, o que resulta no processamento lento, desorganizado ou impreciso das sensações, impactando o desempenho na vida diária (Ashburner et al., 2008; Baker et al., 2008; Brown & Dunn, 2010 ; Jasmin et al., 2009; Kinnealey et al., 2012; O’Donnell et al., 2012; Reynolds et al., 2011; Schaaf et al., 2015).
 
Deste modo, alguns autores referem os problemas sensoriais como preditivos de comportamentos mal adaptativosnas crianças com PEA (Lane et al., 2010).


Os cuidadores de crianças com PEA afirmam que as dificuldades sensoriais afetam a capacidade das suas crianças participarem nas
 rotinas diárias e consequentemente, o seu bem-estar e qualidade de vida (Schaaf et al., 2011). Importa salientar que estas podem ter implicações significativas na participação das crianças nas ocupações, tais como:
·    alimentação (ter uma alimentação saudável e diversificada, utilizar os talheres durante a refeição e cortar os alimentos);
·    vestir (abotoar/desabotoar botões, abrir e fechar fechos éclair, apertar os cordões);
·    higiene pessoal (usar a casa de banho, tomar banho, lavar os dentes, lavar, pentear e cortar o cabelo, cortar as unhas);
·    sono e descanso;
·    participação social (interação com os pares e adultos);
·    brincar;
·    atividades educativas;
·    atividades de vida diária instrumentais (ir ao dentista, ir ao cabeleireiro, ir ao supermercado). 

A Terapia Ocupacional na vertente de Integração Sensorial pode ajudar.

Olívia Campos
Terapia Ocupacional | IPNP Saúde 

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