“ÀS VEZES SINTO TANTA RAIVA!”
Eis uma emoção pouco falada
abertamente, dada a conotação negativa e preconceito em que está envolta.
Muitas são as pessoas que se sentem desta forma. Muitas são também as que não a
querem reconhecer em si, pelo receio/medo, vergonha, culpa, que o confronto
consigo mesmo/a acarreta; ou no Outro, pelo medo do conflito e/ou rutura.
Compreenda-se então melhor o que é a
raiva, de onde vem, quando deixa de ser «normal» e se torna patológica, como
lidar com ela de forma mais saudável e ajustada.
A Raiva é uma emoção básica que, tal
como o medo, tristeza e alegria, por exemplo, tem uma função importante na vida
do ser humano, principalmente no que diz respeito à sua sobrevivência. Normalmente,
apresenta-se como um meio natural de avaliar o meio envolvente e de reagir de
forma adaptativa.
Constitui-se uma resposta física e
mental a situações percebidas como erradas, injustas, prejudiciais e/ou
ameaçadoras, envolvendo habitualmente grande insatisfação/frustração de
determinada necessidade, expectativa e/ou desejo importante. Mobiliza/movimenta
grande energia que, ao ser usada de forma adequada pela pessoa, ajuda na sua
adaptação e recuperação do equilíbrio e bem-estar.
O problema surge quando a pessoa
sente raiva de forma demasiado intensa e frequente, e o seu comportamento e funcionamento, nas várias
áreas da sua vida - pessoal, familiar, social e/ou profissional, são afetados
significativamente.
A energia que esta emoção envolve
passa então a ser canalizada de forma destrutiva, observando-se, por exemplo,
comportamentos «explosivos», que resultam muitas vezes na agressão/mau trato ao
Outro; ou repressão dos mesmos, sendo direcionada a destrutividade para si
próprio/a; ou manipulação, utilizando-se meios escusos e desonestos para
atingir fins. Estes comportamentos envolvem, naturalmente, sofrimento e
mal-estar, não só para o/a próprio/a, como também para os que o/a rodeiam,
sendo necessária muitas vezes ajuda psicológica especializada.
De salientar que uma gestão incorreta
desta emoção pode implicar quadros psicopatológicos graves. Uma pessoa que
evita e/ou nega constantemente a raiva que sente, não permitindo a sua
compreensão, significação e elaboração, logo a sua gestão devida, pode
desenvolver sentimentos intensos de tristeza e desmotivação, e deprimir
gravemente, por exemplo. Em muitos casos, a depressão encobre uma raiva que não
foi bem gerida.
Geralmente, o modo como a pessoa lida
com esta emoção, agora, está relacionada com a forma como experiências de
frustração do passado foram vivenciadas, inclusive e muito frequentemente em
idades mais precoces. Para uns foram sentidas como excessivas, envolvendo
sentimentos de grande insatisfação, desvalorização, mágoa, revolta e/ou
injustiça ao longo da vida; para outros podem ter sido insuficientes, por raramente
terem sido frustrados/as no que queriam ou desejavam, devido a uma proteção
excessiva dos/as pais/mães, por exemplo.
Fundamental então, antes de mais,
perceber o que está a desencadear essa raiva, o que a motiva, algo que com
certeza será diferente de pessoa para pessoa.
Quanto mais consciente e compreendida
for a raiva sentida (pelo/a próprio/a, principalmente), o que só é possível se
pudermos «falar» sobre ela abertamente, sem tabus e preconceito, mais
esta será gerida e expressa de forma ajustada/adequada.
A tomada de consciência ajuda a uma melhor gestão emocional, a uma maior capacidade de decisão sobre a emoção, e a relações mais saudáveis, quer consigo próprio/a, quer com o Outro, logo a um maior bem-estar e saúde mental.
Um/a psicólogo/a especializado/a pode ajudá-lo/a neste processo de construção/desenvolvimento pessoal e social!
A título de curiosidade, se apreciar
este tipo de arte, convidamo-lo/a a conhecer o projeto colaborativo “Angry
People”, de Alvaro Tapia Hidalgo, que ilustra claramente a energia envolvida
nesta emoção. http://www.alvarotapia.com/angrypeople
Célia Baldaia
Psicologia Clínica e Psicoterapia | IPNP Saúde
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