Fantasmas acerca da memória | Perspetiva da Neuropsicologia

Há assim um fantasma um pouco transversal à sociedade de que quando temos “falhas de memória” algo de muito mau está para chegar, como se os esquecimentos antecipassem uma deterioração eminente da capacidade cognitiva.

No entanto importa perceber que aquilo que classificamos como “esquecimento” pode ocorrer devido à falha num dos passos do complexo processo de memorização e, de forma muito frequente, pode mesmo nem ter nada a ver com memória. 

O que significa que eu posso esquecer porque não me consigo lembrar mas também porque não estive atenta/o, ou porque algo me interrompeu o raciocínio e a memória foi mal codificada (assim como se tivesse sido arrumada na gaveta errada) ou simplesmente porque quanto maior a pressão para lembrar maior a probabilidade de não conseguir acesso à informação que procuro (o nome de uma pessoa por exemplo). 

Para complicar, temos vários tipos de memória e nem todos “envelhecem” ao mesmo ritmo, assim como uma fragilidade num deles nem sempre implica a disfunção de outros. Ou seja, posso não conseguir lembrar o nome do filme que vi ontem mas saber tudo acerca dos resultados de futebol da época passada.

E se quisermos adicionar complexidade podemos pensar que os sistemas de memória têm um substrato neuronal ligado em rede a tudo aquilo que constituí o que somos, o que sabemos e o que sentimos. O que na prática pode significar que vou memorizar melhor o que me faz sentido ou o que me dá prazer, e esquecer informação neutra com pouco significado emocional por muito importante que possa parecer (desde a lista de compras, à informação bancária ou tributária). 

No meio de todas estas variáveis cabe ao Neuropsicólogo a avaliação cuidada e detalhada destes processos, que focam tanto os domínios cognitivos como das emoções e da personalidade. Uma avaliação global vai facilitar o diagnóstico diferencial, dar uma perspetiva de prognóstico e orientar para a resposta terapêutica mais adequada à etiologia dos défices.

Ou seja, perceber se as causas da dificuldade de memória podem ser reversíveis ou minimizadas, se se prevê uma evolução rápida ou mais gradual que permita uma intervenção no sentido de abrandar a progressão de uma possível doença neurológica.

Na dúvida procure um Especialista!

Susana Oliveira-Lopes
Neuropsicologia Clínica | IPNP Saúde

"Persistência da Memória", de Salvador Dali


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