A dor do luto

 O luto refere-se a um conjunto de reações a uma perda significativa, geralmente pela morte de alguém ou de alguma coisa. Já nos dizia Bowlby, o “pai” da vinculação, que quanto maior for a vinculação com o “objeto” perdido (que pode ser uma pessoa, animal, fase da vida, estatuto socioeconómico,...), maior será o sofrimento durante o luto. 

Bowlby descreveu quatro estádios ou fases que a pessoa, supostamente, tem de passar para que a perda da vinculação seja reconhecida e a recuperação ocorra. A primeira fase é o choque onde não há reconhecimento da perda. De seguida entra a fase de protesto em que se procura e anseia pela pessoa perdida. A terceira fase é o desespero através da consciência que a perda é permanente e, por último, na quarta ocorre  a aceitação que ocorre quando o indivíduo se adapta à perda e começa a retomar o seu funcionamento normal. 

A adaptação ao luto é o resultado de uma interação entre duas forças de vinculação opostas: a necessidade de manter a proximidade com a pessoa perdida e a necessidade de se desvincular à dor da perda para investir noutras relações.

 

A característica inicial do processo de luto acontece pelas relembranças da perda, aliadas ao sentimento de tristeza e choro. Além destes sentimentos, é comum o estado de choque, a raiva, a hostilidade, a solidão, a agitação, a ansiedade e a fadiga. Podem ocorrer sensações físicas como “vazio no estômago” e “aperto no peito”.

 

A duração do processo de luto é variável e compreende uma considerável falta de interesse pelo mundo exterior. Com o passar do tempo, o choro e a tristeza vão diminuindo e é esperado que a pessoa se vá reorganizando. Porém, é um processo a longo prazo e os episódios de recaída são comuns. Caso alguém não consiga lidar de uma forma socialmente adequada com a perda por mais de 6 meses e continue em intenso sofrimento e/ou não se consiga reorganizar, é considerado um luto patológico e é recomendado que se faça psicoterapia. 

 

O luto considerado dentro dos parâmetros da normalidade está relacionado ao facto de a pessoa enlutada conseguir ultrapassar o processo de luto através da realização de diversas tarefas, distribuídas ao longo de um continuum, ou seja, numa primeira fase a pessoa experiencia sentimentos de choque, descrença e negação, a fase seguinte é marcada por um período de desconforto somático e emocional, assim como pela retirada social, e por fim, numa última fase, existe um período de reconstituição. 

 

Se estas fases não são vivenciadas e ultrapassadas num determinado período de tempo, muitas vezes, poder-se-á estar na presença de um luto não adaptativo. É importante salientar que o luto patológico está mais relacionado com a intensidade e a duração das reações do que propriamente com a simples presença ou ausência de um comportamento específico.

 

No trabalho de luto é crucial a elaboração e emancipação dos laços estabelecidos com o morto/o e/ou situação, o reajustamento com o meio envolvente e a formação de novas relações. É muitas vezes difícil, mas é possível. 

 

Sempre melhores, sempre disponíveis, para que se sinta mais confortável e seguro.


Diana Dias Moreira

Psicologia Clínica e Psicoterapia


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