Demências: desconstruindo mitos

Com frequência ouvimos falar de demência. Mas de que se trata afinal?

As demências são um conjunto heterogéneo de doenças resultantes do mau funcionamento e da progressiva morte de células cerebrais (neurónios). O que distingue os vários tipos de demências é a sua etiologia (causa), sendo que os sinais, sintomas e alterações comportamentais dependem da localização das lesões orgânicas.

 

Tratando-se de uma doença cerebral adquirida (pois não está presente desde o nascimento), provoca o comprometimento da autonomia e funcionalidade, afetando, num primeiro momento as tarefas executivas (planeamento, resolução de problemas), passando pelas tarefas instrumentais (cozinhar, fazer compras), tonando o doente progressivamente dependente de terceiros até para a realização das atividades básicas da vida diária, como alimentar-se, higienizar-se e/ou movimentar-se.

 

A prevalência (possibilidade de ter) aumenta com a idade, sendo cerca de 90% dos casos diagnosticados acime dos 65 anos. Não obstante, esta condição não é exclusiva dos idosos, existindo casos em pessoas mais jovens (como é o caso da demência fronto-temporal, que surge entre os 55 e os 65 anos – período pré-senescência). A Doença de Alzheimer (DA) constitui o caso mais frequente de demência, constituindo 50 a 70% dos casos). A estimativa do número de casos com demência para Portugal ascenderá, até 2037, para os 322 mi8l casos, isto é, triplicará. 

 

Não podemos, de todo, ignorar esta problemática, que compromete a funcionalidade, autonomia e, portanto, a vivência humana. Assim, é urgente refletirmos sobre alguns mitos, que, não esclarecidos, comprometem o acompanhamento levando, por consequência, ao agravamento da doença:

 

Mito 1: “Não adianta fazer o diagnóstico, é uma doença que não tem cura”

Fazer um bom diagnóstico é fundamental, numa primeira fase, para perceber qual a etiologia (causa) dos sinais e sintomas de demência. Se estivermos perante sinais e sintomas de demência provocados, por exemplo, por deficiências vitamínicas, como a anemia perniciosa que pode produzir demência, estamos perante uma situação parcialmente reversível, através da administração de Vitamina B12. Até ao momento, não existem tratamentos que previnam eficazmente ou que permitam a cura da grande maioria das demências, incluindo a Doença de Alzheimer. No entanto, há medicamentos que ajudam a combater o declínio cognitivo e permitem controlar alguns sintomas da doença. O tratamento dirigido à doença exige um diagnóstico preciso do tipo de demência e deve ser orientado por uma equipa multidisciplinar, com psicólogo, neurologista e psiquiatra.

 

Mito 2: “As pessoas com demência não dormem de noite, nem deixam dormir”

Importa referir que o envelhecimento provoca alterações nas rotinas de repouso, com uma diminuição nas horas de sono durante a noite (5 horas), levando a que o idoso passe por pequenos períodos de descanso durante o dia. Naturalmente, se permitirmos que existam períodos de repouso quando deveriam estar ativos, assistiremos a um agravamento da agitação ao final da tarde e mesmo à noite, fenómeno conhecido como sundowning. Há contudo, importantes estratégias que podem ser adotadas, sendo fundamental em primeiro lugar, perceber que fatores poderão desencadear a agitação; planear o dia para que as atividades mais exigentes e cansativas decorram durante a manhã, como a promoção do exercício físico, reservando a tarde para atividades estruturadas mais tranquilizantes (por exemplo, um pequeno passeio, jogar um jogo, receber uma visita familiar, etc); maximizar a exposição à luz solar; assegurar que a medicação se encontra adequada à fase que a pessoa com demência atravessa; manter a tranquilidade e silêncio no quarto, durante a noite, apenas com uma luz de presença.

 

Mito 3: “Quem tem demência tem que estar institucionalizado/internado”

A retirada de qualquer pessoa do seu contexto, da sua casa, do seu habitat, longe da sua família, dos seus objetos e da sua história é um processo altamente constrangedor e antagónico a uma vivência saudável do envelhecimento. Garantindo-se um diagnóstico precoce, com terapêutica atempada, quer no que diz respeito à intervenção farmacológica quer à não farmacológica, com respostas sociais e respetivas valências adequadas às necessidades quer do idoso quer do cuidador informal, é a melhor resposta. Não obstante, caso seja necessário um acompanhamento por parte de uma equipa multidisciplinar, e uma vigilância permanente - caso a família não consiga garantir, deverá ser considerada a institucionalização, o que não pode ser sinónimo de abandono, pois nada substitui o amor de uma família.

Qualquer doença implica sofrimento, para o próprio e para a Sua família, que, inevitavelmente, terá que efetuar profundas alterações. A vivência - mais ou menos serena e bem sucedida, de um processo demencial, encontra-se dependente do nível de esclarecimento, planeamento e acompanhamento, por parte de uma equipa multidisciplinar. 

 

Nós podemos ajudar!

 

Raquel Azevedo Freitas & Valéria Sousa Gomes

Projeto Sénior Citizen | IPNP Saúde 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Qual a diferença entre a Integração Sensorial e a Estimulação Sensorial?

Projeto Faces da Depressão

Brincar é a forma mais sublime de descobrir! (Albert Einstein)