Marcas Eróticas

A nossa dependência física e emocional relativamente aos nossos pais é de tal forma completa, bem como a necessidade de nos sentirmos amados é de tal modo profunda, que fazemos de tudo para não os perder. No entanto, à medida que vamos crescendo, tanto queremos que nos “peguem ao colo”, como queremos que nos deixem em paz. E é nesta “dança da vida” com os nossos pais, que vamos formando o nosso sistema de crenças, medos e expetativas, nem sempre conscientes, de como as relações funcionam. 


Para muitos, a autodescoberta sexual é marcada por mensagens dos próprios pais que induzem ao medo, à culpa e à desconfiança, e aquilo que nos deveria proteger enquanto crianças, revela-se, muitas vezes, uma fonte de grande ansiedade na vida sexual adulta. Muitas vezes, as tensões internas que minam a nossa sexualidade, resultam de conflitos da infância. E mesmo que as nossas inclinações e preferências eróticas se vão refinando ao longo da vida, muitas vezes têm origem nas nossas experiências de infância, tanto nas boas, como nas menos boas, sendo de referir que muito pouco da nossa imaginação erótica existe por acaso. 


Ao debruçarmo-nos sobre as nossas experiências de infância, podemos perceber onde e como aprendemos a amar, se aprendemos a ter prazer (ou não), se aprendemos a confiar nos outros (ou não), se os nossos pais tentavam dar resposta às nossas necessidades, ou se esperavam que fossemos nós a suprir as deles, se fomos rejeitados ou se rejeitamos, se procurávamos consolo e proteção no colo dos nossos pais, ou se, pelo contrário, fugíamos deles para nos sentirmos seguros, entre outras questões pertinentes para o nosso desenvolvimento enquanto adultos. 

É no contexto familiar que aprendemos a diferenciar as situações em que podemos avançar, sem medos, de outras em que o nosso próprio entusiasmo pode ferir sentimentos e causar mal-estar. É neste contexto que aprendemos o que sentir em relação ao nosso género, ao nosso corpo e à nossa própria sexualidade, aprendendo uma data de lições sobre o que somos e como devemos e/ou queremos ser, nomeadamente, se choramos ou escondemos as emoções, se nos abrimos aos outros, ou se pelo contrário nos fechamos, se nos atrevemos ou se somos esmagados pelo medo… 


São estas experiências de infância que moldam as crenças que temos acerca de nós mesmos, bem como, as expetativas que tendemos a projetar nos outros. E cada um de nós acaba por levar toda essa “herança” para as relações amorosas da vida adulta, sendo que muitas destas variáveis emocionais são óbvias, mas muitas delas permanecem “caladas” e muitas vezes escondidas até de nós próprios. 


Esther Perel refere que “Um dos aspetos das marcas eróticas que ilustra a irracionalidade do nosso desejo é o facto de o que nos excita ser muitas vezes fruto das nossas mágoas e frustrações da nossa infância”. Por sua vez, Jack Morin menciona que “a imaginação erótica é engenhosa na forma como desmonta, transforma e repara os traumas do passado”, o que remete ao facto de que, muitas vezes, as experiências de infância que nos causaram maior dor, acabam por se transformar nas nossas maiores fontes de prazer e luxúria, implicando conflitos internos nem sempre fáceis de perceber e trazer à luz nas relações. 


A nossa estrutura de proximidade e prazer tem raízes na infância, sendo aqui que se criam as bases das nossas preferências sexuais: O que nos atrai? O que nos excita ou tem o efeito contrário? A proximidade é-nos confortável, ou tendemos a afastar o outro? Como encaramos a ideia de sentir prazer com a pessoa que amamos?, etc. 


É caso para dizer, “Diz-me como foste amado, dir-te-ei como fazes amor”… 

Afinal, “Não há passado que tenha maior efeito na nossa vida amorosa de adultos do que aquele que escrevemos com quem toma conta de nós desde a nascença.” Esther Perel


Cuide de Si e da sua Relação.

 

Ana Medeiros
Sexologia Clínica | IPNP Saúde

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