Trauma na infância. A importância da intervenção precoce

O trauma psíquico ocorre quando determinada situação (ou situações) é sentida como intensamente ameaçadora e a pessoa considera que não dispõe de recursos internos para conseguir lidar e gerir todo o impacto causado pela mesma. 

Existem situações que deixam marcas e que podem ser potencialmente traumáticas: abuso físico, sexual, psicológico, negligência, violência doméstica, situações de divórcio, a perda de um familiar, a perda de um amigo, a perda de um animal de estimação… Até uma pandemia, que com todas as suas restrições, confinamentos e perdas, pode ter um impacto negativo e constituir um trauma. 

No caso específico das crianças, é frequente aparecerem manifestações somáticas (dores de barriga, febres, dores de cabeça, …), agitação motora (inquietude), alterações do apetite e do sono, agressividade, irritabilidade, diminuição da capacidade de concentração, pesadelos, terrores noturnos, entre outros (APA, 2002). Atendendo às muitas configurações, os sintomas que uma criança pode manifestar perante uma situação potencialmente traumática, muitas vezes podem ser desvalorizados e, consequentemente, evoluir para quadros clínicos mais perturbadores e dolorosos. 


Quando as crianças são expostas a situações traumáticas, e dado que o cérebro ainda se encontra em desenvolvimento, pode ocorrer um subdesenvolvimento do córtex cerebral e causar diferentes problemas cognitivos e afetivos, nomeadamente de memória, atenção, linguagem, concentração, aprendizagem, competências emocionais e relacionais, entre outros (Bellis & Zisk, 2015; Flynn et.al, 2015). 


A longo prazo, é frequente o desenvolvimento de quadros psicopatológicos como perturbações da ansiedade, perturbação de stresse pós-traumático, comportamento antissocial, depressão, e até alterações graves da estrutura de personalidade, que condicionam amplamente diferentes dimensões da pessoa: pessoal, familiar, relacional e laboral. 


Nem todos sentem/experimentam as situações da mesma forma. Após uma situação potencialmente traumática, habitualmente a pessoa reajusta-se e a visão do mundo muda, mas isto não quer dizer que se transforma num estado psicopatológico; pode até potenciar um crescimento, adaptação e evolução do indivíduo. 


Quando uma criança vivencia uma situação traumática, é importante proporcionar-lhe um ambiente estável, relações seguras e de confiança, para que possa exprimir o que sente, o que imagina, os seus receios, as suas soluções para lidar com a/s experiência/s dolorosa/s. 


E quando procurar ajuda psicoterapêutica? 

Quando os sintomas interferirem de forma significativa no bem-estar e no dia-a-dia da criança e/ou da família. A intervenção psicoterapêutica proporciona a possibilidade de pensar, elaborar e integrar internamente a situação, diminuir o sofrimento psíquico e, em conjunto com o/ psicoterapeuta, encontrar alternativas, respostas para alcançar o equilíbrio biopsicossocial. 


Transformar para melhor crescer e viver! 

 

Diana Sá Moreira
Psicologia Clínica Forense | IPNP Saúde

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