Violência nas relações de intimidade: efeito COVID-19

A violência nas relações de intimidade (VRI) é uma problemática de saúde pública e uma violação contra os direitos humanos. É definida como qualquer comportamento abusivo na relação íntima que incluiu perseguição, violência física, sexual e/ou psicológica. 


Como ocorre e qual o impacto?

A VRI pode ser praticada pelo parceiro íntimo atual ou anterior, sendo este cônjuge ou não. São exemplos: o bater ou pontapear, a relação sexual forçada, a intimidação ou humilhação constantes e comportamentos de controlo como o stalking (Organização Mundial de Saúde [OMS], 2012), que podem agravar-se ao longo da relação.


 

Dramaticamente encontra-se associada a um aumento da morbilidade e mortalidade, sobretudo feminina (Campbell et al., 2007; Miller & McCaw, 2019). As consequências físicas e psicológicas abrangem lesões e dor crónica, problemas gastrointestinais e ginecológicos, stresse, ansiedade, depressão, ideação suicida e/ou abuso de substâncias (Campbell, 2002; Coker et al., 2002; Karakurt et al., 2014). 

 

Dado que os efeitos da exposição à violência perduram após o fim do relacionamento abusivo, as vítimas e/ou sobreviventes de VRI apresentam frequentemente sintomas de perturbação de stresse pós-traumático (PTSD). 

 

Adicionalmente, relatam redução da capacidade de trabalhar e socializar, apresentam maior probabilidade de ficar desempregadas e necessitam mais vezes de assistência social (Campbell, 2002). Este tipo de violência coloca, igualmente, em causa o bem-estar dos filhos das vítimas e das suas famílias (Campbell & Lewandowski, 1997). 

 

E no contexto da Pandemia COVID-19?

 

Antes do COVID-19, uma em cada três mulheres, globalmente, sofria de abusos por parte do parceiro íntimo (OMS, 2019). Porém, no decurso da situação pandémica atual provocada pela COVID-19, as pessoas viram-se obrigadas a permanecer em casa e a cumprir medidas de afastamento social (Mazza et al., 2020). Tais restrições, associadas à falta de apoio/rede social, à insegurança económica e stresse provocadas pela perda de rendimentos, à disponibilidade reduzida de serviços de saúde ou às interações negativas entre os casais (Jarnecke & Flanagan, 2020; Kaukinen, 2020; Moreira & Costa, 2020; Usher et al., 2020), potenciaram um aumento de episódios de violência (Moreira & Costa, 2020). 

 

São, portanto, vários os estudos que relatam um aumento muito significativo de casos de VRI, especialmente contra as mulheres (Boxall et al., 2020; Buttell & Ferreira, 2020; Evans et al., 2020; Tadesse et al., 2020). De acordo com Emezue (2020), em comparação com o mesmo período do ano anterior à pandemia, a prevalência atual da VRI poderá ser três vezes superior. 

A tudo isto, acresce o facto de a pandemia comprometer o acesso das vítimas aos serviços de apoio habituais e trazer inúmeros e novos desafios aos profissionais de saúde que prestam estes serviços (Emezue, 2020; Moreira & Costa, 2020). Desta forma, urge a necessidade de intervenções eficazes e acessíveis para vítimas de VRI, sobretudo daquelas que se encontram social e fisicamente isoladas (Emezue, 2020).

 

Estar atento aos sinais, apoiar e encaminhar para intervenção especializada e multidisciplinar das vítimas, representam as armas de combate e de prevenção de danos ainda mais devastadores.

 

 E se sente que está num relacionamento abusivo, saiba que estamos cá para si e que podemos ajudar. 

 

Sempre melhores, sempre disponíveis, para que se sinta mais confortável e seguro.

 

Diana Dias Moreira

Psicologia Clínica Forense | IPNP Saúde

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Qual a diferença entre a Integração Sensorial e a Estimulação Sensorial?

Projeto Faces da Depressão

"É um disparate as pessoas convencerem-se de que a inteligência vem do Cérebro"