O lugar do erotismo
Harmonizar a vida doméstica com a vida erótica, implica um equilíbrio delicado que, ao contrário do que seria desejado, apenas se alcança de forma intermitente. A distância e a comunhão alternam-se, e espera-se que o Desejoresista ao confinamento e que o compromisso não engula toda a liberdade da (e na) relação.
O erotismo entre portas exige empenho e intenções deliberadas, ao contrário do “mito da espontaneidade”, que muitos casais utilizam como “bandeira” do arrefecimento da relação. A ideia de que o casamento é algo sério, que implica mais trabalho que brincadeira, não dando lugar à paixão que é (foi) coisa de adolescentes, cria resistências. Queixamo-nos de tédio sexual, mas o verdadeiro desafio é alimentar o erotismo da relação em pleno contexto familiar, o que implica esforço, tempo e total consciência do que estamos a fazer.
Então, e se olhasse o/a parceiro/a como uma refeição gourmet? Daquelas que nunca experimentou, mas que está disposto/a a elaborar? A vontade de preparar um prato diferente surge na ideia, e daí a escolher os melhores ingredientes, caprichar nos acompanhamentos, procurar o melhor vinho e atravessar meia cidade para comprar a melhor sobremesa de que se lembra, é apenas um passo…
Assim é, ou deveria ser, o planeamento do seu espaço erótico com o/a parceiro/a. Ao planear o “quando” acontecerá, “como” estará vestido/a e “onde” dará largas à imaginação, cria espaço à intencionalidade, e acaba por ser uma experiência erótica por si só.
Afinal, e como Esther Perel refere, “A espontaneidade é uma ideia fabulosa, mas, numa relação duradoura, aquilo que devia «acontecer simplesmente» já aconteceu. Agora têm de fazer com que aconteça. O sexo que é fruto do compromisso é sexo intencional”.
Para muitos casais, a ideia de planeamento está muito associada ao agendamento que, por sua vez, está associado ao trabalho, o qual remete à ideia de obrigação. Trata-se, por isso, de desconstruir convicções e abrir caminho à vivência de uma sexualidade mais consciente e deliberadamente desejada.
Cuide da sua relação.
Ana Medeiros
Sexologia Clínica | IPNP Saúde
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