A Demência pode ter diferentes fases?
A vivência de uma demência revela-se um processo exigente, não só para o doente como
Todas as demências são doenças progressivas, que
tendem a obedecer a um padrão, pelo que se identificam, habitualmente, três
fases da evolução da demência:
- Fase Ligeira: uma fase em que nem sempre se valorizam devidamente determinadas
alterações comportamentais, que afetam, essencialmente, as atividades
executivas, por exemplo, ser incapaz de resolver problemas, não planear o dia,
não se lembrar de pagar as contas, perder objetos, ou ter necessidade de ver constantemente
o calendário para se situar no tempo.
Nesta fase, a prioridade passa pelo apoio na
consciencialização e adaptação ao diagnóstico e o esclarecimento das suas
implicações, quer ao utente, quer à família. É fundamental a instituição
precoce de medidas farmacológicas e não farmacológicas (recorrer a determinadas
valências que garantam a segurança, a estimulação cognitiva e de
funcionalidade, mantendo-se integrado no seu contexto).
- Fase Moderada: que se caracteriza como um momento de inúmeras perdas/alterações,
sobretudo ao nível das tarefas instrumentais, com comportamentos de desconfiança
delirante (pode acusar as pessoas próximas de esconder bens), tem dificuldade
no controlo dos impulsos, sendo evidentes as dificuldades de comunicação.
É essencial, nesta
fase, investir na reabilitação adaptada
à situação, para preservação das capacidades remanescentes, ajustando-se a
terapêutica farmacológica, com preocupação acrescida no controlo dos sintomas.
A família e cuidadores necessitam de apoio na adaptação progressiva a novos
desafios, devendo continuar a investir-se na capacidade funcional, através de
tarefas muito simples, desde que em contexto seguro. A
estimulação emocional e o conforto físico são as prioridades.
- Fase Avançada ou Severa: fase marcada pela incapacidade de reconhecer quem a rodeia, não
reconhecendo a sua própria imagem, por exemplo, quando se olha ao espelho. Com
um discurso incompreensível, há a total dependência no que respeita às
necessidades básicas (na alimentação, higiene e mobilidade), encontrando-se o
dia a dia reservado ao leito.
Nesta fase, os cuidados de
conforto e controlo sintomático são preponderantes. Os familiares e
cuidadores devem estar informados da evolução da doença e preparados para lidar
com a dependência total. É normalmente nesta fase que se encontra a fase
terminal.
Portanto, um correto diagnóstico,
quer no que respeita ao tipo de demência bem como a fase em que se encontra, é fundamental para uma correta intervenção,
atenuando e suavizando os constrangimentos característicos da vivência de um
processo demencial.
Raquel Azevedo Freitas
Coordenadora da Unidade de Demência| IPNP Saúde
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