"Quem tem uma mãe tem tudo"!

Ouvimos dizer muitas vezes a expressão popular “Quem tem uma mãe tem tudo”. Acrescentaríamos, dado o papel central que os pais têm na vida dos filhos, que esta máxima também se aplica ao pai. 

No entanto, paralelamente ao ter, é de extrema importância a qualidade da relação e da saúde mental dos pais, uma vez que claramente estas se constituem como fatores protetores ou de risco da saúde mental e física das crianças.                                                                    

À medida que a criança vai crescendo deverá tornar-se cada vez menos dependente, mais autónoma, seja a nível físico ou emocional, o que só conseguirá com a ajuda dos adultos que a rodeiam.

Sendo os pais/cuidadores detentores de saúde mental, de uma boa autoestima, contribuirão para que os seus filhos se sintam mais confiantes na exploração do mundo, no seu processo de autonomização, na medida em que conseguem amá-los e valorizá-los enquanto eles mesmos e não enquanto um prolongamento narcísico de si.

É muito importante que os pais/cuidadores contenham de uma forma segura as preocupações e angústias, de as metabolizar, de dar, mas também de receber, valorizando o que recebem. Deste modo, as crianças conseguirão a autoestima necessária para a descoberta da própria vida, porque têm cuidadores autoconfiantes, capazes de transmitir segurança.

Pais com grandes fragilidades a nível da autoestima podem levar ao aparecimento de uma ferida narcísica na criança e, a um nível mais grave, a doenças, como por exemplo, uma depressão.

As crianças deprimidas tendem a mostrar-se apáticas, sem curiosidade, a sentir dificuldade em explorar, a evitar conflitos ou confrontos, manifestando, em larga medida, um direcionar desajustado da agressividade, voltando-a muitas vezes para si própria ou para quem não se justifica. Têm uma imagem de si distorcida, sentimentos intensos de incapacidade, insegurança, medo, pela vivência antecipatória do falhar. As suas defesas podem ser de fuga à mentalização e de tendência ao agir, ou de inibição, tendendo a manifestar uma diminuição do rendimento escolar, intelectual e social.

Alguns fatores de risco que poderão originar uma baixa autoconfiança e autoestima passam muitas vezes pela existência de uma perda ou separação a nível das relações mais significativas, tais como:

- Morte de um ou ambos os pais, de um irmão, de um adulto próximo da criança (avô, ama…).

- Separação brutal e completa, seja devido ao desaparecimento de um dos próximos (separação parental, partida de um irmão…) ou afastamento da própria criança (hospitalização, reinserção institucional não preparada…).

- Separação temporária (doença, hospitalização breve, ausência momentânea de um dos pais…) – apesar de temporária pode suscitar uma angústia de abandono que persiste para além do retorno à situação normal.

- Acontecimentos que por vezes podem surgir aos olhos dos adultos sem importância (mudança de casa, de escola, morte de um animal doméstico, perda ou afastamento de um colega, nascimento de um irmão…)

- Perda unicamente «interativa» - mãe/pai que no plano psíquico deixa de estar disponível, tomado por um conflito conjugal, por um luto, uma doença, uma depressão, por exemplo.

A propósito deste último ponto, salientam-se:

- Antecedentes de depressão nos pais, podendo haver um mecanismo de identificação ao pai/mãe deprimido/a; um sentimento de que a mãe/pai é simultaneamente inacessível e indisponível e, ao mesmo tempo, incapaz de se consolar, gratificar ou satisfazer, o que gera no/a filho/a frustração, culpa…; sentimentos de falta de confiança básica devido a uma excessiva proteção por parte dos pais, ou de desvalorização, por estes serem demasiado distantes, existentes mas sem capacidade de se deixarem tocar.

- Carência parental, que se traduz em pouca ou nenhuma estimulação afetiva, verbal ou educativa; um dos pais é, por vezes, abertamente rejeitante, desvalorizante, agressivo, hostil, indiferente…

- Educação excessivamente severa – as crianças vítimas de violência, abusos e maus-tratos físicos e/ou psicológicos, por exemplo, tendem a desenvolver o sentimento de que se os pais lhes batem ou fazem mal, é porque fizeram disparates ou são «más», sentem-se claramente culpadas da violência de que são vítimas.

Perante estes fatores, a prevenção e intervenção psicológicas, que envolve não só a própria criança, mas também os seus cuidadores mais significativos, tornam-se fundamentais. Quanto mais cedo os pais, ou outros cuidadores significativos, procurarem ajuda profissional especializada, mais rápida e eficaz será a intervenção e menor será o prejuízo a nível do desenvolvimento emocional, relacional e neurocognitivo das suas crianças.

Procurar ajuda profissional também é sinal de saúde mental!



Célia Baldaia
Psicologia Clínica e Psicoterapia | IPNP Saúde

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