"É um disparate as pessoas convencerem-se de que a inteligência vem do Cérebro"

    © Orlando Almeida / Global Imagens

Há muito que António Damásio defende o término da dicotomia razão/emoção abordando-o no seu livro editado em 1994 “O Erro de Descartes”.

pensamento científico, e até filosófico, que vem apresentando nas suas obras e fruto do seu trabalho científico na área das Neurociências tem vindo a defender o lugar da emoção em tarefas até então descritas como puramente cognitivas, como sendo a resolução de problemas e os processos de tomada de decisão acabando com o mito de que a emoção enviesa ou “prejudica” o raciocínio, patente em expressões comummente usadas como “penso melhor de cabeça fria”.

Inerente a esta reflexão que por si só foi começando a quebrar preconceções acerca da forma como de facto os seres humanos funcionam, vem acrescentar uma outra que tem vindo a desenvolver ao longo dos anos e igualmente relevante, que consiste no término da dicotomia mente/corpo.

O seu raciocínio é simples: se o cérebro tanto é a origem do pensamento, linguagem ou afeto, como do controlo dos movimentos do corpo, batimento cardíaco e regulação da temperatura corporal não faz sentido olhar o corpo como algo distinto e afastado da mente, tudo o que somos, sentimos, pensamos ou fazemos tem um substrato neuronal comum e como tal torna-se intrinsecamente indissociável.

Esta relação é evidente na manifestação corporal das emoções, como no caso da ansiedade em que surge um aumento do batimento cardíaco ou da frequência respiratória ou o “aperto” no estômago. Estamos aliás habituados a descrever as emoções através da sua vivência no corpo, como o clássico “sinto como se tivesse borboletas no estômago”.

Mas no seu último livro “Sentir & Saber” acrescenta uma ideia uns passos mais à frente em termos do entendimento que faz da relação entre afeto, criatividade e inteligência. Aqui, apresenta como exemplo as máquinas de inteligência artificial que só resolvem os problemas que lhes colocamos, não sendo de facto criativas porque não conseguem pensar problemas aos quais é necessário dar resposta. 

E é aqui que reside o aspeto diferenciador do ser humano: a criatividade só é possível porque somos imperfeitos e vulneráveis, ou seja, porque sofremos com o frio ou com a dor, ou porque sentimos a necessidade de responder a questões para acalmar a nossa inquietude, é que temos o instinto e a motivação para procurar soluções para os nossos problemas.

Como referiu recentemente numa entrevista: “temos de pensar fora da caixa e para o fazer não podemos ser perfeitos”.

Quão interessante não é esta mudança de paradigma?

Susana Oliveira-Lopes
Neuropsicologia Clínica 


Comentários

  1. Obrigada , por nos fazer pensar fora da« caixa»...Realmente como não somos perfeitos , temos que estar sempre à procura de novas soluções...Assim ficámos com a ideia que ser inteligente, é «criar possibilidades»....pois é isso que resolve....
    Cordiais saudações, obrigada, mais uma vez...

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