Trabalho e Saúde Mental

A perceção acerca do impacto da intensidade e sobrecarga laboral sobre a saúde mental tem ganho recentemente maior preponderância no discurso público e nas discussões acerca da saúde mental. Se até há relativamente pouco tempo uma perspetiva centrada em “dar 200% no trabalho” prevalecia, hoje é cada vez mais evidente que existe uma correlação clara entre excesso de horas de trabalho e prevalência de sintomatologia ansiosa e depressiva, doença cardiovascular e mortalidade precoce.

As recentes adaptações operadas no trabalho, encabeçadas pela adoção mais ou menos generalizada do tele-trabalho em atividades onde este é possível agudizou este problema, apagando ainda mais as fronteiras que separam o tempo dedicado ao trabalho e aquele que deve ser dedicado às outras esferas da vivência, podendo o mesmo ser dito acerca do espaço, com as salas de estar e escritórios de casa a serem invadidos por atividades que previamente se realizavam apenas no local de trabalho.
As razões que levam ao excesso de trabalho são complexas e frequentemente alheias à vontade do próprio funcionário. No entanto, uma percentagem de pessoas apresenta características que, enquadradas num sistema que favorece a produção em detrimento da saúde mental, as vulnerabiliza ao excesso de trabalho e às suas consequências.

Indivíduos com funcionamento mental pautado por maior tendência à compulsão, perfeccionismo e rigidez, com maior dificuldade na assertividade podem, em virtude destas características, favorecer relações com o trabalho que os colocam em maior risco de excesso laboral e burnout.

É essencial colocar a saúde mental à frente da produtividade individual, e construir ambientes laborais e profissionais orientados para o bem-estar de todos.



Pedro Frias Gonçalves
Psiquiatria |IPNP Saúde

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