RELAÇÃO PRECOCE E A CONSTRUÇÃO DE UMA BASE SEGURA

"Olá bebé! Então eras tu que estavas na barriga da mamã?!"

Assim começa a aventura. Num lugar de encontros e diálogos, a relação afetuosa, consistente e contínua com os pais/cuidadores possibilita ao bebé a construção de uma base segura feita inicialmente de sensações, mas que progressivamente tornar-se-ão pensamentos, emoções diferenciadas e representações. 

Os primeiros anos de vida são cruciais para um desenvolvimento saudável. A qualidade da relação pai/mãe-bebé constrói-se através da sensibilidade parental, da proximidade, do afeto, do cuidar e da sincronia. 

Acresce naturalmente as características da criança, o temperamento, os contextos familiares e sociais, o suporte socioemocional e os acontecimentos de vida para a formação das diferentes dinâmicas desenvolvimentais. Estas são únicas e complexas, não lineares, como múltiplas possibilidades para o crescimento mental e o bem-estar psicológico. 

Sabemos no entanto, que quando as experiências marcam positivamente as vivências da infância, a criança construirá uma representação, uma “imagem” do Outro, de si e do mundo em geral segura, disponível e confiante. Estas representações mentais influenciarão de forma significativa e estruturante a auto-exploração, a competência, a autonomia e os relacionamentos futuros ao longo da vida. 

Contudo, se as interações são negativas e frustrantes, com insensibilidade, negligência, hostilidade e/ou rejeição, a representação criada basear-se-á na insegurança, na preocupação e ansiedade, no medo, afetando o valor próprio e as relações interpessoais. Estas trajetórias relacionais muitas vezes estão na base de sentimentos, repetidos e dominantes, de vazio, abandono, angústia e perceção de falta de valor, e presentes nos processos psicoterapêuticos da criança, do adolescente e do adulto. 

A interdependência da formação e manutenção dos vínculos com as relações futuras e com a personalidade surge como um aspeto fundamental para a compreensão da capacidade relacional e transformativa do Ser Humano. É através deste conhecimento que nos é possível promover o desenvolvimento saudável e seguro ao longo da vida e intervir em situações de enorme sofrimento e/ou perturbação mental. 

Cuidar e assegurar as relações precoces, em todos os seus contextos, e criar condições para o autocuidado, de qualidade de vida e relacional, por se demonstrarem impactantes no desenvolvimento futuro e no bem-estar psicológico, deverão ser os princípios norteadores das políticas, da economia, das práticas profissionais e de cada um/a individualmente.  

“Não é fácil amar, mas é bom. E se não se amar não se vive” (Coimbra de Matos, 2017)

Valéria Sousa-Gomes & Diana Sá Moreira

Especialidade Psicologia Clínica e Psicoterapia | IPNP Saúde

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