“Nunca amamos excessivamente uma criança.”

__Francine Ferland

Já muito se tem escrito sobre o mito de não existir “mimo a mais” mas há ideias de tal forma enraizadas culturalmente que são difíceis de desconstruir. Com a agravante de que esta assenta sobretudo num mal entendido: a diferença entre mimar e colocar limites.

Colocar limites é saber quando dizer “não”, que não é um “não” arbitrário, só porque sim. É um “não” porque “não podes, porque te magoas”. Como refere Coimbra de Matos, “não é preciso pôr limites, basta mostrar à criança que a realidade tem limites”: não poder atravessar a estrada sozinho porque pode ser atropelado; não colocar a mão no fogão porque se queima; ou não poder comer demasiados doces porque fica com dor de barriga.

Mas, e mimar o que será?
Mimar é dar colo. Quando a criança chora e quando ri, quando pede, quando precisa. Mimar é o brilho no olhar dos pais quando assistem maravilhados a cada nova palavra, a cada riso, a cada nova construção ou desenho, quando observam o raciocínio em ebulição, à curiosidade manifesta nos sucessivos “porquês” ou na forma como traduzem o mundo em palavras simples e honestas.

A função dos pais é esta, criar condições para o crescimento pleno da criança para que se desenvolva para ser quem ela é. E a arma poderosa do desenvolvimento saudável não é outra senão o amor.

O amor dos pais alimenta o amor próprio do filho/a que lhe dará a segurança para explorar o mundo e impulsionará o desejo de apreender. Perante a insuficiência de afeto, e presa à culpa das suas “asneiras”, a criança cresce insegura de si e da relação com os outros, e assim o potencial que tem para ser e para se relacionar é amputado precocemente, deixando uma ferida difícil de cicatrizar.

Estas feridas funcionam ao longo do crescimento como pedras que dificultam a aprendizagem, a concentração no estudo ou no trabalho, que dificultam o estabelecimento de relacionamentos saudáveis, capazes de impedir a expressão da individualidade plena de cada um.

A Psicoterapia permite entrar no mundo interno da criança ou do adulto, abrir e por fim cicatrizar estas feridas narcísicas e relacionais, e permitir a redescoberta de outras dimensões da personalidade que se constituem como fonte e lugar de algo precioso: a identidade única e irrepetível de cada ser humano.

“Queremos um mundo de pessoas que cresceram com amor e em razão do amor; e não um mundo de pessoa (não-pessoas) que medraram sob o medo e pela opressão da culpa. Só assim teremos um mundo onde vale a pena viver.” (ACM)

Susana Oliveira-Lopes | Psicologia Clínica e Psicoterapia

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