AQUI E ALÉM DA SEPARAÇÃO

Numa união conjugal há a esperança, talvez até mesmo uma promessa, de que a estrutura permanecerá estável – “amor para a vida toda”. No entanto, o divórcio levanta o véu da ilusão e o que fica é que é “eterno enquanto dura”! 
 
A relação conjugal é um vínculo forte-frágil, que pode mudar ou se dissolver a qualquer momento. Mesmo casais com um relacionamento sólido dispõe de uma “saída de emergência” - que está presente e existe para sempre.
 
A separação/divórcio, ainda que frequente (58% em 2018 em Portugal), é um dos acontecimentos mais complexos e difíceis que uma pessoa pode experienciar e a dor emocional pode ser difícil de superar. Afeta toda a família, independentemente da idade, e, muitas vezes, com efeitos colaterais significativos e devastadores. 
 
A diminuição da intimidade e proximidade, as lacunas emocionais complexas, o acumular de queixas negativas, os problemas de comunicação levam à deterioração da relação. A tensão e a confusão, o conflito, o stress e, mesmo, a violência começam a dominar. O equilíbrio desequilibra-se e a necessidade de mudança sobrepõe-se à necessidade de preservar o relacionamento.
 
Na maioria das vezes ocorre uma crise dolorosa que envolve pesar, incerteza, raiva e sentimentos de desintegração e reconstrução. Outras vezes é um alívio, uma vez que domina o conflito e a violência na família, assim como a consciência da incapacidade de dar aos filhos um lugar seguro e saudável para crescer. No entanto, aliviar este sofrimento mental, poderá implicar a substituição por outra dor: lidar com a separação dos pais.
 
O impacto na criança/jovem é menos destrutivo quando os pais permitem e compreendem que, devido às mudanças na família, os filhos terão que enfrentar a dor psicológica, a perda, a incerteza, as mudanças na sua autoestima e, por vezes, nas suas relações sociais. Que a experiência de dor, insegurança e medo estão associadas. 
 

O divórcio muda o ambiente familiar, o porto seguro dos filhos, o que é parte da razão pela qual são estes geralmente os mais prejudicados pelo divórcio a curto e médio prazo. As crianças estão frequentemente preocupados com questões básicas como: O que acontecerá comigo, com minha segurança e com as minhas relações no dia-a-dia? Porque se separaram? É definitivo? Como ficará a minha relação com o meu pai,  com a minha mãe e em geral a partir de agora? 


É necessário sossegá-las, dar-lhes segurança. Acolher, transformar e devolver as suas emoções de forma mais construtiva. Quando não acontece ficam confusas, negam e/ou “deixam de lado” tudo o que está a acontecer, manifestando a dor de outras formas menos saudáveis. Geralmente não falam sobre si mesmas, dos seus sentimentos, do que veem e ouvem. Passam pelo processo sozinhas, o que pode aumentar o sofrimento.
 
De modo a amortecer o impacto deste acontecimento na vida de todos, é necessário trabalhar/intervir num espaço de partilha, na relação entre os cônjuges, antes e depois da separação, nas caraterísticas da personalidade de cada um e no próprio processo de divórcio. 
 
No ambiente familiar e/ou através da procura de ajuda especializada, a escuta, a intimidade, a partilha de sentimentos e as experiências de fracasso, raiva, mal-estar, tristeza e fantasias devem ter um lugar e a oportunidade de serem aceites como parte da imprevisibilidade da vida e das mudanças que ocorrem nas relações de intimidade.
 
Valéria Sousa-Gomes 
Apoio e Intervenção Familiar 
 
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