É possível superar vivências traumáticas de infância!?

Nem todas as pessoas tiveram uma infância predominantemente feliz! Nem todas tiveram a infância que deveriam/mereciam ter, com vivências suficientemente prazerosas e saudáveis. Muitas são as que passaram por situações traumáticas de grande sofrimento e mal-estar!


O trauma envolve acontecimentos na vida da pessoa que implicam uma quantidade de «excitações» que superam a sua capacidade de tolerar e elaborar psiquicamente. Alguns exemplos desses acontecimentos podem ser a perda inesperada de alguém querido/significativo, violência física e/ou psicológica (ex.: agressão, maus-tratos, abuso sexual, negligência), doença (física e/ou mental) ou acidente grave pessoal e/ou familiar, que envolvem um trabalho psíquico de grande intensidade, exigindo que a pessoa disponha de “recursos internos capazes de reorganizar os elementos integrantes do Eu e a relação do Eu com o mundo externo” (Zavaroni & Viana, 2015, p. 332). 

 

Neste sentido, é muito provável que as crianças, numa primeira infância, sintam estas situações de forma traumática, na medida em que as suas defesas psíquicas ainda não se encontram plenamente constituídas. Sem dúvida, que se encontram mais vulneráveis a este tipo de acontecimentos.

 

Os primeiros cuidados de vida são essenciais para a estruturação psíquica e aquisição de capacidades de regulação afetiva, de reflexão e autonomia. Vivências traumáticas a nível das relações mais precoces, que interferem bastante com o afeto, segurança, proteção e conforto sentidos, podem resultar numa grande falta de confiança nas pessoas/meio circundante, comprometendo o desenvolvimento saudável. Havendo menos capacidade em representar simbolicamente às suas experiências, a criança torna-se mais vulnerável ao sofrimento psíquico.

 

O trauma, enquanto processo psíquico, confronta a pessoa com situações de intensa angústia. “A constituição psíquica está permeada e se faz, ela mesma, através destas vivências emocionais mobilizadoras de angústia que serão, sucessivamente, revividas” (Zavaroni & Viana, 2015, p. 332). 

 

As consequências do trauma podem ser variadas. Estudos referem alterações na estrutura cerebral, nas funções cognitivas, no funcionamento psicológico geral. Alguns sintomas podem ser dificuldades de concentração, memória, raciocínio e aprendizagem, ansiedade, agitação, medo intenso, insegurança, baixa auto-estima, respostas defensivas exageradas, hipervigilância, dificuldades de sono e apetite, pensamentos recorrentes acerca da situação traumática e/ou evitamento do que a faça lembrar, irritabilidade, agressividade, acessos de raiva, dificuldades relacionais, hipersensibilidade interpessoal, isolamento, afastamento do convívio social, desinteresse pelo futuro... Perturbações de personalidade, obsessivas-compulsivas, psicossomáticas, alimentares, fobia, depressão e stress pós-traumático também podem surgir.

 

Claro está que o impacto do trauma na vida de uma pessoa dependerá de muitos fatores… da intensidade da violência do evento traumático, mas também muito das características/capacidades/recursos mais individuais da pessoa, do ambiente em que está inserida, do apoio/suporte que tem por parte dos que a rodeiam.

 

Uma infância traumática não tem que significar necessariamente uma vida adulta infeliz! É possível ressignificar o passado, fazer escolhas, tomar decisões a favor de um presente e futuro mais saudável e feliz! É possível melhorar/reconstruir a auto-estima, fortalecer redes de apoio, não perpetuar o sofrimento com os filhos e outros que o/rodeiam, perdoar quem o/a feriu, perdoar-se a si próprio/a, retirar algo benéfico das experiências negativas passadas… É possível, mas sabemos que, muitas vezes, não é fácil sem ajuda…

Na maior parte dos casos de trauma na infância, o apoio psicológico especializado assume-se de extrema importância. O prognóstico, no que diz respeito à melhoria/superação das dificuldades e sofrimento associado, será tanto melhor quanto mais cedo a pessoa iniciar uma psicoterapia.

Nesta, ou seja, “num encontro à posteriori, o adulto depara-se com fragmentos de lembranças de cenas e situações vivenciadas atribuindo-lhes significados e realizando um trabalho de reconstrução, onde os efeitos dessas vivências são compreendidos no depois do seu acontecer” (Zavaroni & Viana, 2015, p. 331).


Com uma psicoterapia, a pessoa poderá compreender melhor o seu sofrimento; aprender formas de questionar os seus padrões de pensamento e comportamento menos saudáveis; ativar e promover recursos emocionais, relacionais e cognitivos; reajustar defesas; melhorar/alterar a visão que tem sobre si e sobre o mundo…

O importante não é aquilo que fizeram connosco, mas o que podemos fazer com o que os outros fizeram de nós (Jean-Paul Sartre). Uma infância traumática não tem que significar uma vida adulta infeliz! 


Para mais informações e/ou marcação de consulta, contacte-me.

A sua saúde mental e bem-estar sempre em primeiro lugar!

 

Célia Baldaia

Psicologia Clínica e Psicoterapia | IPNP Saúde

 

Fontes: 

Zavaroni, D. & Viana, T. (2015). Trauma e Infância: Considerações sobre a vivência de Situações Potencialmente Traumáticas. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 31 (3), 331-338. http://dx.doi.org/10.1590/0102-37722015032273331338  

Waykamp, V. & Serralta, F. (2018). Repercussões do trauma na infância na psicopatologia da vida adulta. Ciências Psicológicas, 12 (1), 137-144. http://dx.doi.org/10.22235/cp.v12i1.1603

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