Mediadores promotores da inserção profissional, num processo de Orientação Escolar, Vocacional e Profissional

Muito mais que a aferição das competências e dos interesses/gostos, um processo de Orientação Escolar, Vocacional e Profissional implica uma detalhada investigação de uma série de variáveis, como por exemplo determinadas características de personalidade, que poderão exercer forte influência na promoção da inserção profissional e de uma salutar gestão de carreira.


Há, de facto, algumas variáveis que favorecem a procura de emprego e inserção profissional, demonstrando-se relevantes, tais como as habilitações, as habilidades, o esforço, a extroversão, o otimismo, sentido de auto-eficácia e o padrão de crenças motivacionais. 

Segundo a APEC (Association Pour l’Emploi des Cadres), tendo por base os seus regulares inquéritos e frequentes projetos de investigação no âmbito da inserção profissional, com consequente criação de organismos especializados nesse campo de observação, salienta a importância das habilitações, concretamente ao nível superior, já que, apesar de alguma dificuldade, os jovens diplomados têm situações relativamente favoráveis em comparação com os que não possuem qualificação. “O diploma favorece a inserção, uma vez que a taxa de desemprego dos não diplomados é duas vezes superior à dos diplomados do Ensino Superior” (Gonçalves, 2006, p. 104). 

 

Ainda neste âmbito, segundo dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional, à medida que a escolaridade aumenta, diminui o tempo de inscrição dos desempregados, sendo que, por norma, os desempregados de longa duração concentram-se nos níveis de habilitação mais baixo (Gonçalves, 2006). 

 

Paralelamente, determinadas características de personalidade têm também sido altamente relacionadas com a proatividade e a conquista de emprego. Por exemplo, a extroversão é considerada como uma das variáveis que mais interfere na conquista de emprego. O otimismo é também relevante na procura de emprego. Waters e Moore (2002), após a análise a 201 indivíduos desempregados em dois momentos distintos, verificaram que as apreciações cognitivas positivas contribuem para o ingresso no mercado de trabalho, explicando que aqueles que sentem possuir maior controlo sobre as suas situações, conseguem envolver-se numa procura ativa e intensa, aumentando assim as hipóteses de ingresso. 

 

As características pessoais, crenças e atitudes podem exercer forte influência sobre a eficácia nos resultados da busca de emprego ou trabalho, afetando desse modo o que denominam de empregabilidade (Campos et al., 2003). 

 

Parece ser consensual a importância das crenças enquanto mediadores promotores da inserção profissional. A crença representa o sentimento de controlo, que inevitavelmente ditará o comportamento subsequente. O controlo diz respeito à crença do indivíduo em como possui liberdade, autonomia, poder e responsabilidade sobre a construção e constante gestão da sua própria carreira. Segundo Pinto (2010) e Taveira e Moreno (2010), as crenças, concretamente nas competências pessoais de exploração e tomada de decisão, podem ser determinantes para o sucesso da gestão de carreira. Os autores apontam os riscos que a baixa crença nas competências pessoais pode acarretar, sendo certo sentimentos negativos como o desânimo e consequente inibição ou mesmo evitamento face a determinadas situações respeitantes à gestão de carreira. Um nível razoável e realista de crenças nas capacidades pessoais pode demonstrar-se um bom mediador. 

 

Um maior sentimento de auto-eficácia, maior locus de controlo interno e bons índices de auto-estima são três mediadores de um sentimento generalizado de domínio sobre a própria vida, podendo ter importantes efeitos a aplicar na intervenção da preparação para a procura de emprego e para a redução de sintomas depressivos.

 

De facto, face à atual conjuntura socioeconómica e às exigências do mundo profissional, a noção de empregabilidade e os fatores que favoreçam este fenómeno não deverá ser negligenciado. O desenvolvimento de competências que habilitem os indivíduos para a sua inserção na vida ativa deve ser considerado um exercício básico de cidadania, aspeto crucial num processo de Orientação Escolar, Vocacional e Profissional.

 

Raquel Azevedo Freitas

Orientação Vocacional e Desenvolvimento da Carreira 


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