Demência: Missão Comunicar e o POPEI

Demência é um termo abrangente para uma diversidade de condições médicas associadas a processos degenerativos do cérebro. As alterações levam a um declínio em competências cognitivas, de tal forma que prejudicam a vida diária, a independência e a comunicação. As demências mais comuns são a doença de Alzheimer e a demência vascular. Atinge mais adultos idosos, mas não faz parte do envelhecimento normal.

 

Como é que a demência afeta a comunicação?

O nosso cérebro é uma série de caminhos com cruzamentos, entroncamentos e atalhos. A demência afeta esta rede de neurónios, o que pode dificultar a expressão e a compreensão do que os outros dizem. Podemos encontrar alguns sinais como:

Dificuldade em encontrar as palavras

Usar repetidamente as mesmas palavras

Descrever os objetos em vez de os dizer pelo nome

Perder facilmente o fio à meada

Dificuldade em organizar as palavras com lógica

Começar a falar só na língua materna

Falar menos

Usar mais gestos do que comunicação verbal

 

A demência é uma doença progressiva, que vai gradualmente alterando a forma como a pessoa comunica. A comunicação pode ser um dos aspetos mais perturbadores nos cuidados a uma pessoa com demência. Apesar de ser difícil perceber porque é que as pessoas com demência têm determinados comportamentos, a razão é atribuída às mudanças que vão ocorrendo no cérebro.

 

O que é a Missão Comunicar e o POPEI?

Como Terapeuta da Fala, senti necessidade de criar um acrónimo como forma de facilitar a transferência de competências comunicativas para os cuidadores de pessoas com demência: o POPEI. O POPEI é um conjunto de técnicas, ou estratégias, comunicativas e formas de estar com pessoas com demência: P - Positivo, O - Orientação, P - Perguntas, E - Emoção, I - Interação.

 

Positivo

Ser gentil, delicado, paciente. Devemos utilizar tópicos agradáveis e fáceis. O objetivo é ter conversas alegres e cordiais. O toque físico, se bem tolerado pelo outro, e um tom de voz delicado (não infantil nem condescendente), expressam implicitamente afeto e respeito. Já todos tivemos experiências em que nos apercebemos que a entoação e a forma como falamos dão imensa informação. Quantas vezes estes aspetos não deram origem a falhas na comunicação?!

 

Orientação

Orientar para a conversa. Devemos repetir as palavras-chave e, simultaneamente, dar tempo e fazer pausas. Podemos reformular quando vemos que houve falhas na compreensão, ou “dar a palavra” que lhes falta. Neste último caso, para evitar ofender, temos que prestar atenção à pessoa com demência e ver se o vai aceitar. Frases curtas e simples, sem palavras ambíguas, são fundamentais para promover uma melhor compreensão da mensagem.

 

Perguntas

Estruturar as perguntas. Podemos começar com questões abertas, que promovem mais tópicos de conversa e dão mais liberdade. Contudo, quando estas não resultam devido às alterações cognitivas decorrentes da demência, devemos fazer perguntas mais fáceis e utilizar questões de resposta sim/não.

 

Emoção 

Ir à emoção que desencadeia o comportamento. Devemos colocar-nos no lugar do outro e tentar compreender o que leva a uma determinada atitude ou reação. O confronto deve ser evitado, porque gera conflitos que podem não ser ultrapassáveis. 

 

Interação 

Interagir considerando as dificuldades específicas da pessoa com demência. A forma como nos relacionamos com uma pessoa com demência tem muita influência na saúde mental. Devemos evitar recrutar a memória de curto prazo, quando sabemos que não se conseguem recordar de acontecimentos recentes. Podemos procurar utilizar a memória semântica quando reconhecemos que gostam mais de falar do passado mais longínquo. Devemos sempre reforçar o significado com expressão corporal e gestos, fazer contacto ocular e, sobretudo, minimizar distrações. 

 

Ainda tenho dúvidas. O que devo fazer?

É fácil ficarmos defensivos e até agressivos quando há falhas na comunicação. Devemos entrar com bondade como meta, ao lidarmos com dificuldades comunicativas associadas à demência. 

Contacte-nos para mais informações sobre o POPEI.

 

Siga o programa “Dois Chás de Conversa” no canal do YouTube do IPNP Saúde, onde pode assistir ao episódio sobre este tema e a outros! 

https://www.youtube.com/playlist?list=PL-PkgEJhWI2FbR2JgXPHlyXC3pLMZCbUm



Eva Antunes

Terapia da Fala |IPNP Saúde

 

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