O impacto das relações profissionais na vivência do trabalho – A Janela de Johari

 O trabalho constitui um importante domínio da vivência humana, não só pelo tempo de dedicação que exige, como pelo lugar de destaque entre os papéis sociais representativos do Eu.

Incidir sobre o domínio profissional trata-se mesmo de analisar a construção de uma identidade autónoma, onde dois sistemas estruturantes assumem principal relevo: a atividade instrumental (trabalho) e a atividade comunicacional (a interação entre os indivíduos). O trabalho é central para a compreensão do comportamento humano, bem como para a contextualização das suas vivências.

 

É inquestionável o impacto e a influência que o trabalho tem, sendo determinante para a perceção da satisfação com a vida. São vários os fatores que influenciam a vivência positiva ou negativa do trabalho, entre os quais, se destaca, as relações profissionais, dimensão que merece forte análise, sensibilidade e formação, com resultados bidirecionais – para o colaborador e para a própria empresa.

 

Portanto, a vivência positiva do trabalho depende, muito, da capacidade de interação e relacionamento interpessoal dos elementos de uma equipa. Isto também depende da forma como cada um se vê a si mesmo, e da forma como os outros veem determinada pessoa. Assim, quando as pessoas se veem da mesma forma como são vistas, tendem a trabalhar melhor, sentir maior satisfação com o trabalho e com a vida, contribuir para um bom ambiente e, por consequência, desenvolver ações mais eficazes e eficientes

 

Quando, pelo contrário, a autoimagem é diferente da imagem que os outros criam, poderá haver maior predisposição para a criação e envolvimento em conflitos, o que causa forte ansiedade, atitudes defensivas e comportamentos inadequados. A Janela de Johari constitui-se como um modelo explicativo da dinâmica interpessoal, que estimula uma análise ao próprio comportamento, compreendendo-o e aprimorando-o, num processo dinâmico e contínuo.



Segundo Joseph Luft e Harry Ingham, a Janela de Johari representa um modelo que descreve as relações interpessoais, reconhecendo, como princípio básico, que a interação envolve elementos conhecidos (por nós e pelos outros) e desconhecidos (de igual forma, quer por nós, quer pelos outros), formando 4 grandes áreas que muito influenciam o relacionamento – os vários “Eus”.


Se considerarmos uma janela, podemos pensar em 4 significativas dimensões do Eu: a Área aberta, a Área Cega, a Área Oculta e a Área Desconhecida. 

 

Na Área Aberta, o Eu é visto da mesma forma que é analisado pelos outros, isto é, as pessoas veem um indivíduo do mesmo modo como ele se vê, no que respeita às suas características, ao modo de falar, à atitude/postura que assume em geral e às suas habilidades.

 

Na Área Cega, ou encoberta, concentra os fatores e as características de comportamento que as outras pessoas percebem no indivíduo, mas que ele não consegue perceber. Nesta dimensão, a informação referente à nossa maneira de ser é criada por outras pessoas. 

 

Na Área Oculta concentram-se os comportamentos que vemos e que assumimos, mas que escondemos dos outros. Trata-se daquilo que sabemos e reconhecemos sobre nós próprios, mas que preferimos esconder dos outros. 

 

Finalmente temos a designada Área Desconhecida, onde há fatores que não percebemos em nós mesmos nem as outras pessoas percebem. Constituem as memórias da infância, as potencialidades latentes e os aspetos escondidos da dinâmica interpessoal. Trata-se, portanto, do que é desconhecido quer para nós, quer para os demais, como por exemplo, determinadas competências, mas que pode ser desenvolvido/evidenciado caso o ambiente assim o propicie.

 

Reconhecer estas diversas dimensões, e procurar congruência entre o eu real e aquele que é visto pelos outros pode promover alteração de comportamentos quer da parte do próprio trabalhador, quer da parte dos outros elementos da equipa. 

 

Existem dois principais processos que regulam esse fluxo interpessoal: a procura de feedback, que consiste em aceitarmos e incentivarmos a perceção dos outros sobre nós mesmos, para identificarmos como os nossos comportamentos afetam os outros, vendo-nos por intermédio dos outros; e fornecer feedback ou auto exposição, isto é, darmos informação aos outros, identificando, por meio das suas perceções e sentimentos, como o comportamento dos outros nos afeta.

 

Se é verdade que o trabalho é muito mais que as relações interpessoais que daí resultam, é igualmente interessante reconhecer que a dimensão social tem forte impacto/influência nos comportamentos, dinâmica, performance e bem-estar do indivíduo, pelo que é fundamental refletir, analisar e investir na aferição da perceção que os colaboradores têm do contexto/microssistema laboral onde se encontram inseridos. 

 

É importante um processo de tomada de consciência do eu, explorando estilos comportamentais que deverão ser assumidos no sentido de ultrapassar determinadas situações problema, que jamais deverão ser negligenciadas. Neste processo, a psicoterapia pode ajudar.

 

Raquel Azevedo Freitas 

Psicologia Clínica e Psicoterapia | IPNP Saúde

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