Como saber quando a dor mental justifica um pedido de psicoterapia?

Sabemos quando a dor de dentes remete para uma ida ao dentista, ou quando a falta de ar justifica um inalador ou mesmo quando a dor no peito dá sinais de um problema cardíaco que urge uma ida ao hospital. 

Mas… como saber que a dor que estamos a sentir é demais?

 

A experiência clínica diz-nos que quando há um pedido de ajuda, a dor já ultrapassou há muito o limite do suportável. Muitos pedidos de ajuda surgem não com semanas ou meses, mas com anos de atraso. 

 

O problema da saúde mental é que, por um lado, o ritmo de vida ser tal que camufla o mal-estar interno e não permite tempo para refletir ou sequer sentir plenamente o que nos vai acontecendo, ritmo esse que acaba por nos pôr numa espécie de dormência. E por outro, os mecanismos que o nosso psiquismo usa para suportar a dorfuncionam ao serviço de a encobrir e sofremos por vezes sem ter consciência disso, alimentando essa dormência. 

 

Não obstante, os sinais estão lá e as consequências podem sentir-se nos vários cenários em que nos movemos. Para começar, tal como a dor física, a dor mental torna-nos impacientes, irritáveis, pouco tolerantes tanto ao outro como a nós mesmos. Torna-se difícil tolerar quando erramos, mesmo quando a falha é pequena face às grandes conquistas que a acompanham. A falha torna-se tudo. 

 

Zangamo-nos mais e com maior intensidade, com a particularidade de por vezes não sabermos bem porquê. Zangamo-nos com quem nos é mais próximo, afastamos os outros ou, por outro lado, tornamo-nos dependentes deles. A relação com o outro em vez de complementar pode surgir como uma bengala emocional para preencher um vazio que desconhecemos. 



Não conseguimos manter-nos muito tempo no mesmo trabalho ou, no extremo oposto, toleramos uma vida profissional que não nos satisfaz ou mesmo que nos oprime. 


As conquistas, quando surgem, são um rasgo de ânimo que se diluí com uma rapidez que surpreende. 

alegria e a beleza passam por nós quase sem nos tocar

amor próprio fica fragilizado, e com ele a confiança nas nossas competências e nas nossas decisões. 


estado emocional é um emaranhado indiferenciado que se traduz numa palavra: cansaço. E, cansados, cumprimos tarefas, acumulamos conquistas que se esfumam, temos relações que não nos satisfazem, tornamo-nos hábeis em tolerar o intolerável.

 

Curiosamente temos um organismo fantástico que fala por nós e manda sinais para nos despertar desse torpor: surgem ataques de pânico que sinalizam a agitação interna, a dificuldade em adormecer que pode remeter para a necessidade de manter ativo um estado de alerta, a produtividade ou a criatividade começam a diminuir porque há menos espaço para pensar, a vontade de sair de casa pode ser cada vez menor ou, pelo contrário, somos acometidos por uma necessidade imperiosa de sair à rua. 

 

pedimos ajuda quando intuímos nesta comunicação, a que o corpo dá voz, que há algo que podemos mudar em nós, quando percebemos que as coisas não têm que ser assim tão difíceis. Porque, como referiu Freud, "Somos feitos de carne, mas (às vezes) temos de viver como se fossemos de ferro."

 

Susana Oliveira-Lopes

Psicologia Clínica e Psicoterapia | IPNP Saúde

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