Síndrome do Ninho Vazio

O ninho vazio é uma fase de transição vivida pelos pais, habitualmente entre os 45 e os 65 anos de idade, quando os seus filhos saem de casa. 

A síndrome do ninho vazio é a condição psicológica dessa etapa, frequentemente associada a sentimentos de tristeza, perda, medo ou dificuldade em redefinir papéis com efeitos negativos, tais como depressão, alcoolismo, crise de identidade, e conflito conjugal. Contudo, para muitos é um momento muito positivo, uma oportunidade de reconexão e um tempo para reacender e resgatar os interesses pessoais. 
 
Este conceito deriva da teoria do papel (role theory), considerando que havia inevitavelmente uma perda do papel parental com impacto negativo na identidade, no sentido do Eu e no bem estar do/a pai/mãe. Sabe-se hoje que o papel parental pode mudar ou adaptar-se à nova situação, mas de forma alguma é perdido.
 
Para amortecer esta transformação do papel e da relação, é também muito importante a existência de outros papéis sociais significativos. Quanto mais papéis se tem, menos ameaçadora é a perspetiva de um ninho vazio. O impacto da mudança do papel parental pode ser também maior caso outros acontecimentos estressantes ocorram por volta do mesmo período de tempo. Por exemplo, a reforma pode coincidir com a fase de ninho vazio; consequentemente, o esforço de ajustamento necessário é intensificado com um risco acrescido de sentimentos de perda e insatisfação.



Quais os fatores determinantes para a saída dos filhos e sua relação com o bem-estar dos pais?
Atualmente, a maioria dos jovens adultos sai voluntariamente da casa dos pais para procurar oportunidades educacionais, de emprego ou simplesmente para viver de forma independente.
 
Fatores como a idade, a situação económica, as características familiares, potenciam a saída do “ninho” familiar. Com o desenvolvimento de si mesmos e da sua personalidade, os jovens procuram natural e saudavelmente a sua independência. O facto de se conseguirem sustentar economicamente, é também um fator determinante.
 
As características da estrutura/dinâmica familiar também têm influência, na definição do momento de saída, na medida em que, por exemplo, crescer num seio familiar numeroso, promove o desejo de independência, mais cedo, na vida dos jovens adultos.
 
O impacto da saída nos pais é experienciado de forma muito individual, podendo variar entre: 
- Uma vivência de perda do papel, onde se verifica uma diminuição do bem-estar pessoal e conjugal, e de realização. Este facto é muitas vezes explicado pela ausência de papéis alternativos, aos parentais, que facilitam a continuidade da identidade após a partida dos filhos.
 
- Um alívio da tensão do papel, uma vez que a presença dos filhos em casa aumenta, muitas vezes, a exposição a momentos causadores de stress como as exigências do dia-a-dia, a restrição do tempo e os conflitos trabalho-família. Quando os filhos “abandonam” o ninho, os pais envolvem-se em menos papéis/tarefas, reduzindo assim a tensão, o stress e o cansaço.
 
Das dificuldades reportadas nos estudos, as mães relataram um aumento significativo de sentimentos de solidão entre a fase de lançamento e a fase de ninho vazio, o que pode ser explicado pela diminuição dos níveis de atividades/tarefas parentais. 
 
Apesar de se verificar este quadro, não são muitas as diferenças quanto ao bem-estar psicológico ou satisfação com a vida. A maior parte dos estudos indica que poucas mães e poucos pais experimentam uma abundância de emoções negativas e dificuldades de adaptação, características da síndrome de ninho vazio. 
 
Acresce que a partida dos filhos não gera nos pais, emoções estritamente negativas ou positivas, mas sim uma ambivalência entre ambas, que vão variar em função da qualidade da relação entre pais  filhos. 
 
Os estudos indicam também que, após as fases de criação e lançamento dos filhos, ambos os pais, mostraram tendencialmente um aumento substancial da qualidade e satisfação conjugais. Um dos motivos que explica esta satisfação, encontra-se relacionado com o facto do casal redescobrir o prazer da liberdade para aproveitarem o seu tempo como desejam e para se reconectarem.  
 
Quais as variáveis do contexto / externas influenciam o processo de transição?
As variáveis do contexto têm influência na forma como os pais lidam com a transição. O grau de impacto relaciona-se sobretudo com o momento em que a saída do ninho ocorre. 
 
Entre as variáveis apontadas nos estudos, podemos enunciar:
As expectativas dos pais, em relação ao momento mais apropriado para a partida dos filhos;  
As características demográficas dos pais, principalmente o estatuto ocupacional, o número de filhos e a idade no momento da transição pós-parental. Pais que trabalharam em part-time ou que ficam em casa, são ligeiramente mais propensos à síndrome do ninho vazio do que aqueles empregados em tempo integral. Quanto à idade, os pais mais jovens relatam maiores desafios associados à transição, comparativamente aos pais mais velhos, o que pode ser justificado pelo fato de os últimos viverem um maior período de preparação mental para facilitar esta transição.

E quais os efeitos na relação entre pais e filhos após a saída?
À medida que se aproxima o momento de saída do “ninho”, ocorrem já mudanças na relação entre pais e filhos. Segundo Bozett, os pais tornam-se menos autoritários e diretivos, o que leva a que os filhos estejam mais recetivos às sugestões e influências dos pais. 
 
Verifica-se também que pais que vivam perto dos filhos e que mantenham relações harmoniosas com eles, não experienciam mudanças ao nível do padrão de atividade, no período pós-parentalidade, mantendo-se como importante porto seguro!

Valéria Sousa-Gomes e Cristina Silva 
Consulta de Pais | Psicologia Clínica e Psicoterapia 
IPNP Saúde 

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