Córtex Pré-Frontal – O grande Maestro cerebral

Hoje celebra-se o Dia Mundial do Cérebro! Mas afinal o que distingue o cérebro humano do cérebro dos animais, como os primatas por exemplo?

A resposta é: muito menos do que imagina! Existe uma área cerebral, a última a desenvolver-se do ponto de vista de evolução da espécie, e que constituí uns meros 10% do volume cerebral. Claro que estamos a falar do Córtex Pré-Frontal, o grande maestro cerebral.

Este bocadinho de tecido cerebral tem como função unir a informação que não pode ser "sentida" - ou seja, o que não pode ser visto, ouvido, tocado, cheirado ou saboreado-, e trazê-la para o real através da ação ou pela possibilidade de agir. Ajuda-nos a orientar o nosso comportamento em direção a objetivos e a tomar decisões com eficácia.

Permite não apenas empatizar com o outro mas também alterar o nosso comportamento e até o que sentimos em função disso. Um exemplo consiste na nossa capacidade de entender que estamos tristes porque o outro nos magoou. Mas mais do que isso: entender também que ele não tinha razão no que disse. E mais ainda: entender que o disse porque estava preocupado com outra coisa. E um pouco mais além: subitamente, porque compreendo, deixo de ficar triste.

Mas para ajudar a entender o funcionamento do córtex pré-frontal podemos recorrer a uma organização anátomo-funcional que sistematiza três áreas distintas: a orbitofrontal, a ventromedial e a dorsolateral.
 
Área Dorsolateral - mediadora do Funcionamento executivo
O córtex pré-frontal dorsolateral tem um papel importante na mediação dos componentes das funções executivas, construto que traduz os processos psicológicos envolvidos no controlo consciente do pensamento e da ação. Um menor nível de atividade do córtex pré-frontal, no que diz respeito ao funcionamento executivo, é indicador de uma maior dificuldade em inibir, planear, mudar de perspetiva ou tarefa, ter capacidade de concentração, entre outras.
Uma das componentes mais importantes, envolvidas no funcionamento executivo, é a tomada de decisão. Mas para a tomada de decisão entram também funções não-cognitivas. Para as compreender passemos à região ventromedial.
 
Área Ventromedial - Sistema Límbico/ processamento emocional
A área do córtex pré-frontal ventromedial encontra-se associada ao sistema límbico, responsável por atribuir um valor aos sentimentos e ações.
Pessoas com lesão no córtex pré-frontal ventromedial revelam falhas na utilização de sinais físicos ou emocionais para guiar o comportamento, o que leva a que se mostrem alheios às consequências dos seus atos e atuem segundo os seus impulsos imediatos.
Adicionalmente, alguns estudos sobre esta área revelam que as emoções e os sentimentos são usados para orientar os processos de tomada de decisão, também associados às Funções Executivas, reforçando a perspetiva de um funcionamento integrativo.
 
Orbitofrontal - Personalidade/ Teoria da Mente
O córtex orbitofrontal viu parte das suas funções serem desvendadas por volta de 1860 com o famoso caso de Phineas Gage que, logo após um acidente de trabalho numa via-férrea, se tornou despreocupado, irresponsável, com um comportamento errático e uma conduta social inapropriada. Foram descritas também alterações ao nível do caráter, relacionadas com o “eu social” (cognição social), ou seja, com a capacidade de relação, empatia e interação com o outro.
O caso de Phineas Gage veio chamar pela primeira vez à atenção para a existência de um substrato neuronal relacionado com o conceito de personalidade e empatia.
A empatia é um fenómeno que caracteriza a capacidade do ser humano em compreender e compartilhar os sentimentos do outro, sendo fundamental para a comunicação diária e sobrevivência num ambiente social. Difere dos conceitos de simpatia e teoria da mente que envolvem a compreensão, mas não o compartilhamento do estado de outra pessoa, assim como do contágio emocional onde não há consciência se a origem do estado é o eu ou o outro.
A empatia é por isso um constructo multidimensional que inclui componentes cognitivos, no sentido de que se tem em conta a perspetiva de alguém em situações emocionais, e afetivos, no âmbito de se sentir as emoções do outro.
Neste sentido não surpreende que a disfunção orbitofrontal esteja também associada ao funcionamento psíquico na psicopatia com impacto na dificuldade em reconhecer expressões faciais e alternância na antecipação das consequências do comportamento como no caso da punição e da recompensa.
 
Terminando…

O córtex pré-frontal, qual maestro empenhado numa coordenação dinâmica e integrada dos instrumentos da sua orquestra, coordena e integra os diferentes naipes musicais, de forma a que a melodia final surja em equilíbrio e harmonia. Na sua ausência o resultado sai desafinado, numa desarmonia de comportamentos bizarros e literais, onde não há lugar à metáfora, mudança, iniciativa, relação com o outro ou à própria identidade. 

“Phineas Gage podia tocar, ouvir, sentir, e nem os membros nem a língua estavam paralisados. 
Caminhava firmemente, utilizava as mãos com destreza e não tinha qualquer 
dificuldade assinalável na fala ou na linguagem. Mas Gage já não era Gage.”
Damásio, 1994, em O Erro de Descartes (p.27)

Susana Oliveira-Lopes, Cristina Silva, Célia Baldaia e Diana Dias Moreira
Neuropsicologia Clínica | IPNP Saúde

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