Ainda não se conhece uma cura ou
reversão da deterioração neurológica inerente à demência. No entanto, existem intervenções
terapêuticas que podem ajudar a minimizar a velocidade de progressão da
doença, sobretudo a nível cognitivo e que permitem intervir nas alterações
de comportamento e de humor, promover a autonomia e melhorar a qualidade de vida da pessoa com demência.
Existem dois tipos de
intervenções terapêuticas para a demência: as farmacológicas e as não
farmacológicas. Ambas têm uma eficácia limitada, devendo ser utilizadas
em conjunto, no sentido de potenciarem o efeito uma da outra. Em relação às
intervenções não farmacológicas, estas dividem-se em:
- Intervenções
Psicológicas, que incluem abordagens orientadas para o comportamento,
emoções e estímulo sensorial ou psicossocial.
- Intervenções
Cognitivas, orientadas para o funcionamento
cognitivo, tendo como objetivo principal retardar, durante o maior
período de tempo, a sua deterioração.
Intervenções cognitivas
As principais abordagens de
intervenção cognitiva são: a reabilitação cognitiva (1), o treino cognitivo (2), a estimulação cognitiva (3) e a terapia de orientação para a realidade (4).
1. Reabilitação Cognitiva
O objetivo é a melhoria da
adaptação funcional da pessoa, no seu contexto diário, devendo ser realizada
em contexto de vida real e tendo como foco as dificuldades mais
relevantes que o doente, família e cuidadores, identifiquem.
2. Treino Cognitivo
Abordagem individualizada na qual
são propostas tarefas organizadas em
vários níveis de dificuldade, dirigidas ao treino de funções cognitivas
específicas. Podem ser exercícios de papel e lápis ou jogos. O objetivo é a
melhoria ou, pelo menos, a manutenção do funcionamento cognitivo
num determinado domínio (e.g., atenção, memória, linguagem). Os efeitos
generalizam-se para além do contexto imediato. Ou seja, o novo conhecimento
pode ser aplicado com sucesso numa variedade de novos contextos e requer o uso
de estratégias de memória e habilidades de pensamento.
3.
Estimulação Cognitiva
Abordagem de estimulação geral, individual
ou em grupo, em que são propostas atividades ou discussões,
sem uma orientação teórica específica, considerando que qualquer estimulação
será benéfica. As sessões de grupo são mais úteis quando o objetivo
principal se concentra no comportamento social. Por outro lado,
favorecem distrações, exigindo especial cuidado com pessoas com acentuadas
dificuldades de atenção.
4.
Orientação para a realidade
O objetivo é orientar a pessoa
para dimensões da realidade, como aspetos biográficos pessoais ou a localização
espácio-temporal.
O paciente deve ser visto na sua
totalidade (“como um todo”), devendo as intervenções responder às suas
necessidades físicas, cognitivas, psicológicas e sociais. Cada intervenção
tem de se adequar à pessoa. Não há uma intervenção única que seja eficaz para
todos os sintomas e fases de evolução da doença. Cada pessoa com demência
necessita de intervenções diversas e as mesmas devem ser adaptadas às
diferentes fases de progressão da doença.
Previamente a qualquer
intervenção, deverá ser feita uma avaliação neuropsicológica
detalhada, entendendo as necessidades específicas da pessoa com
demência, quais as funções cognitivas comprometidas e preservadas, bem como
qual a fase evolutiva da doença. Deve também ser elaborada uma história
clínica onde são identificados os seus interesses, ambiente sociofamiliar,
personalidade e profissão prévia.
Esta avaliação permite que seja
delineado um plano individual de intervenção personalizado, cujos
objetivos devem ser traçados com a colaboração dos doentes e das suas
famílias, tendo em conta as dificuldades que considerem mais
significativas. Estes objetivos devem ser concretos e operacionais, tendo como foco
o desempenho real das atividades diárias.
As intervenções cognitivas devem incidir sobre as funções cognitivas preservadas e aquelas em que
já se verifica algum défice, embora ainda não estejam perdidas.
Qualquer programa de intervenção
cognitiva deve ter em consideração a natureza progressiva do declínio
cognitivo, a compreensão da pessoa sobre a sua doença e a relação
entre a depressão geriátrica e a demência. Estas variáveis devem ser
monitorizadas.
Um Relatório da “Lancet
Commission on Dementia Prevention and Care” NeuroscienceNews.com, indica que 1
em cada 3 casos de demência pode ser prevenido, diminuindo:
- a perda de audição;
- a hipertensão;
- a diabetes;
- a obesidade;
- o tabagismo;
- a depressão
E, por outro lado, aumentando:
- a atividade física;
- o contacto social;
- a aprendizagem. É no âmbito da aprendizagem
que se encontra a estimulação cognitiva.
Sabe-se que o treino mental
intensivo pode ajudar a aumentar a reserva cognitiva, ou seja, a resiliência
que o cérebro tem para lidar com o dano neuronal, encontrando
estratégias e alternativas.
A evidência científica sugere que
a estimulação cognitiva tem um impacto positivo na cognição, na sintomatologia
depressiva, na autonomia dos idosos e constitui um importante fator
protetor relativamente ao aparecimento de demência. A importância da
estimulação cognitiva é ainda maior em casos clínicos em que se identifica um défice
cognitivo ligeiro/perturbação neurocognitiva ligeira, uma vez que é sabido
que este défice/perturbação representa um fator de risco para o desenvolvimento
de demência.
Pequenas melhorias ou a
estabilização das funções cognitivas são ganhos de saúde muito relevantes.
Podem ser alcançados através de programas de intervenção cognitiva que
ajudam a combater o défice cognitivo no processo de envelhecimento. Como
tal, estes programas devem ser incluídos nos planos de cuidados a pessoas mais
velhas, por forma a preservar a sua capacidade cognitiva e funcional e
garantir um maior nível de independência.
Sempre melhores, sempre
disponíveis, para que se sinta mais confortável e seguro.
Diana Dias Moreira
Neuropsicologia Clínica | IPNP Saúde
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