Burnout – Ferramentas preventivas

O burnout é cada vez mais comum nos dias de hoje pelo aumento de ambientes de trabalho hostis e exigentes. A tendência parece ir no sentido de uma menor valorização do ser humano comparativamente à máquina ou de objetivos económicos, aumentando assim a pressão sobre o trabalhador.

Embora esteja presente no Catálogo Internacional de Doenças (CID 10 – Z73.0, descrito como um estado de exaustão vital), o quadro está na secção de problemas relacionados com a organização do seu modo de vida, ou seja, é preciso ter em consideração o contexto em que a pessoa está inserida. O burnout não é, então, entendido como uma doença, não constando, por exemplo, no DSM-5.

O Modelo de Maslach pressupõe que o burnout seja composto por três dimensões:

- A exaustão emocional é a dimensão central do burnout e a manifestação mais evidente desta complexa síndrome. A exaustão é a primeira reação ao stresse provocado pelas exigências do trabalho. Diz respeito a sentimentos de sobrecarga e de falta de recursos emocionais e físicos (Maslach et. al., 2008). Os indivíduos sentem-se cansados e com falta de energia no trabalho, sem recursos emocionais e físicos para enfrentar os desafios e as exigências do local de trabalho e, consequentemente, não têm energia suficiente para manter a sua capacidade de trabalho e convivem com a constante sensação de não conseguir oferecer mais de si. A sensação de que as suas capacidades não são suficientes para responder às causas que provocam situações incómodas, indisposição física e ansiedade. Colocam os profissionais sob constantes testes aos seus limites emocionais e físicos (Maslach et. al., 1981). Em suma, a exaustão emocional refere-se à sensação de estar sobrecarregado emocionalmente aliado ao esgotamento dos recursos emocionais e físicos. As principais causas desta exaustão são a sobrecarga de trabalho e os conflitos interpessoais no trabalho. As pessoas sentem-se “sugadas” e usadas ao máximo, sem que haja uma fonte de reposição de energia ou recompensas profissionais. Não possuem energia suficiente para enfrentar mais um dia de trabalho (Leiter et. al., 2000).

- Despersonalização - consiste numa tentativa do indivíduo em estabelecer uma distância entre si próprio e os destinatários dos serviços que presta, ignorando as qualidades e características que tornam as pessoas únicas e envolventes. As exigências do trabalho tornam-se mais fáceis de serem geridas quando as pessoas são consideradas objetos impessoais do trabalho. O profissional recorre ao distanciamento cognitivo, desenvolvendo uma atitude de indiferença ou cínica quando está exausto e/ou desanimado. O distanciamento é uma reação imediata a exaustão, o que revela uma forte relação da exaustão com a despersonalização (Maslach et. al., 2001). Por norma, a despersonalização é resultado da perda da motivação, do aumento da irritabilidade e da ansiedade. Os indivíduos tornam-se insensíveis e impessoais para com quem mantêm relacionamento profissional, como por exemplo, com os colegas de trabalho, clientes ou superiores, e desenvolvem atitudes despersonalizadas e de indiferença. Para se proteger o indivíduo isola-se e opta por uma atitude de distanciamento, passando a ser incapaz de lidar com as suas próprias emoções (Maslach et. al., 1981). A componente despersonalização representa a dimensão interpessoal do burnout e refere-se a uma resposta negativa, insensível ou excessivamente desprendida a vários aspetos do trabalho, frequentemente incluindo uma perda de idealismo (Maslach et. al., 2008). A despersonalização geralmente desenvolve-se como resposta a sobrecarga de exaustão emocional e inicialmente é auto protetora - uma reserva emocional de preocupação desprendida, mas o risco consiste na transformação do distanciamento em desumanização (Leiter et. al., 2000).

- A falta de realização pessoal parece surgir de forma mais clara quando existe uma falta de recursos relevantes, enquanto a exaustão emocional e a despersonalização emerge da sobrecarga de trabalho e dos conflitos interpessoais (Maslach et. al., 2001). A componente de realização pessoal representa a dimensão de autoavaliação do burnout, refere-se a sentimentos de incompetência, falta de realização e produtividade no trabalho (Maslach et. al., 2008). A falta de realização pessoal resulta da autoavaliação negativa que o profissional faz de si próprio, sentindo-se ineficaz a nível profissional e insatisfeito com a sua realização pessoal no trabalho. Este sentimento surge como consequência da diminuição das suas expetativas pessoais, de uma autoavaliação negativa, de sentimentos de fracasso e da baixa autoestima. O indivíduo encontra-se infeliz consigo próprio e com o seu percurso de desenvolvimento profissional (Maslach et. al., 1981). A diminuição da realização pessoal refere-se a um declínio nos sentimentos de competência e produtividade no trabalho. Este sentimento de ineficácia tem sido associado à depressão e à incapacidade de lidar com as exigências do trabalho, e pode ser agravado pela falta de apoio e de oportunidade para se desenvolver profissionalmente. Os profissionais experienciam sentimentos de incompetência e inadequação sobre as suas capacidades de desempenhar a atividade profissional (Leiter et. al., 2000).

Um estudo sugeriu que a síndrome poderia afetar mais de 40% dos médicos num nível suficiente para comprometer o bem-estar pessoal ou o desempenho profissional destes (Henderson, 1984).

Benevides-Pereira (2002) refere que as mulheres têm apresentado valores mais elevados na dimensão exaustão emocional e os homens na dimensão despersonalização. Estas diferenças podem ser justificadas pelos papéis socialmente aceites e estereótipos de género que estão incutidos na sociedade. Como as mulheres expressam-se mais livremente, pode ajudar a aliviar sentimentos negativos de raiva e hostilidade, enquanto o oposto acontece relativamente ao sexo masculino. No entanto, a dupla jornada de trabalho das mulheres pode justificar os elevados valores da exaustão emocional.

Gil-Monte (2002) concluiu que os homens apresentam valores na dimensão despersonalização significativamente mais altos que as mulheres. O autor justifica estes elevados valores do sexo masculino na dimensão despersonalização como um reflexo da repressão das emoções ou pela relevância dada pelo género masculino a realização pessoal. Se por um lado os homens são competitivos, por outro os seus sentimentos de masculinidade estão dependentes do alcance do sucesso e da realização pessoal e profissional.


Apresento aqui algumas medidas preventivas:


Sempre melhores, sempre disponíveis, para que se sinta mais confortável e seguro.



Diana Dias Moreira
Psicologia Clínica Forense | IPNP Saúde

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