Saúde Mental do Cuidador da Pessoa com Doença de Alzheimer

A Doença de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que provoca uma deterioração global progressiva das funções cognitivas (memória, orientação, atenção, concentração, linguagem, pensamento, entre outras), envolvendo alterações no seu comportamento, personalidade e capacidade funcional, logo uma dificuldade na realização das suas atividades de vida diária.

A intervenção neuropsicológica torna-se fundamental, na medida em que favorece a melhoria/manutenção (por o tempo mais prolongado possível) das funções cognitivas, autonomia, funcionalidade, estado emocional e/ comportamento da pessoa. 

O apoio ao Cuidador também é objetivo importante quando se intervém com a Pessoa com Doença de Alzheimer, ou outras doenças do foro neurológico, com vista à melhoria do seu bem-estar e saúde mental, conseguindo assim cuidar melhor do outro.
Perante a doença de um ente querido, por exemplo da Doença de Alzheimer, que altera não só a vida da pessoa, mas também muito da dos que o/a rodeiam, é natural que determinados sentimentos surjam – zanga, revolta, frustração, tristeza, angústia, ansiedade, medo… Estes são normais e saudáveis na medida em que fazem parte de um processo que vai ajudar a pessoa e cuidador a aceitar a nova realidade, agindo de forma adaptada.
O problema surge quando a vivência destes sentimentos se torna demasiado intensa ou duradoura, afetando o cuidador de forma significativa, no que diz respeito ao seu funcionamento pessoal, familiar, social e/ou académico/profissional, sendo algumas vezes necessária ajuda psicológica.

Cuidar de alguém doente e/ou dependente pode ser de facto muito exigente do ponto de vista emocional, logo torna-se importante estar alerta a determinados sinais. Seguem-se então alguns:
- Anulação/desvalorização das próprias necessidades e sentimentos;
- Sentimentos de 'vazio', insatisfação, tristeza e/ou choro fácil;
- Impaciência, irritabilidade e/ou agressividade;
- Desinteresse e falta de vontade em relação a atividades e relações (inclusivamente em relação às que antes considerava interessantes e prazerosas);
- Tendência para o isolamento;
- Cansaço e fadiga fácil;
- Aumento ou diminuição do apetite e/ou peso;
- Dificuldades de sono (insónia ou dormir excessivamente);
- Discurso e comportamento mais lentos ou, pelo contrário, que revelam agitação, visível, por exemplo, na dificuldade em estar parado, na tendência para se ocupar com demasiadas atividades, na dificuldade em delegar tarefas, ficando sem tempo para si;
- Dificuldade em pensar, tomar decisões e/ou concentrar-se;
- Sentimentos de desvalorização pessoal, impotência e/ou culpa;
- Pensamentos negativos sobre o sentido de vida (ex.: “o que é que ando cá a fazer”); - Ansiedade, tensão ou sentimentos de pânico;
- Mal-estar físico sem causa médica comprovada (ex.: dores de cabeça, problemas intestinais, dores musculares, batimento cardíaco acelerado);
- Esgotamento físico e mental, devido a uma vida desgastante, sobrecarregada, de stress prolongado ou crónico (exaustão emocional, despersonalizacão / desumanização, como se entrasse em modo robot, falta de realização pessoal e profissional).
 
São alguns sinais de mal-estar que o cuidador poderá apresentar, que quanto mais cedo os identificar e tomar consciência da sua existência e importância, mais facilmente conseguirá mobilizar estratégias e comportamentos no sentido de os prevenir e ultrapassar.

Seguem-se alguns dos mais importantes:

- Recorrer a apoio psicológico/psicoterapêutico, no sentido de avaliar o seu estado e, eventualmente, intervir na sintomatologia existente, promover o auto-conhecimento, tomada de consciência e sentimento de valor pessoal, explorar novas perspetivas e alternativas, clarificar e transformar sentimentos e pensamentos, desconstruir e redefinir barreiras e defesas, favorecer a diferenciação e autonomização, potenciar recursos emocionais, relacionais e cognitivos, e estratégias de adaptação pessoal, profissional/académica e social.
- Recorrer ao apoio de familiares e amigos no sentido de o ajudar a diminuir a sobrecarga e aliviar o mal-estar emocional (partilhando tarefas e preocupações, explorando soluções em conjunto, de forma a se sentir menos sozinho e desamparado);
- Aconselhar-se e informar-se devidamente acerca da condição do seu familiar, junto de profissionais de saúde e outros, preparando-se, antecipando algumas situações, permitindo uma melhor gestão de recursos e prioridades, diminuindo a sua ansiedade e angústia;
- Explorar a possibilidade de determinados apoios e respostas sociais, tais como, direito a subsídios, apoio de associações, integração em centro de dia, convívio, apoio domiciliário ou outras, que ajudem nos cuidados ao seu familiar e diminuam a sua sobrecarga;
- Libertar algum tempo para si (de qualidade), necessário para cuidar das próprias necessidades (ex.: apoio psicológico, atividades de lazer, convívio, descanso, alimentação adequada).
 
 
A sua saúde e bem-estar, e dos que cuida, sempre em primeiro lugar!

 



Célia Baldaia
Neuropsicologia Clínica | IPNP Saúde

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