Crianças bonitas choram!

Quantas vezes ouvimos adultos dizerem às crianças, “crianças bonitas não choram!” ou “só as crianças feias fazem birras assim!”. Mas porque é que chorar é tão mau? Porque é que esperamos que as crianças saibam regular as suas emoções e saibam como se devem comportar nas mais variadas situações, se não as ensinamos? Quantos de nós sabemos realmente o que é a inteligência emocional e qual a sua importância no desenvolvimento das crianças?  

A inteligência emocional é a capacidade de reconhecer, verbalizar, compreender e gerir as próprias emoções, assim como as dos Outros. A aquisição destas competências permite que as crianças adquiram competências intrapessoais (autonomia, autoconfiança, resiliência, etc.), assim como competências interpessoais (empatia, cooperação, respeito, etc.). O desenvolvimento da inteligência emocional promove assim o estabelecimento de relações pessoais positivas, uma vez que a promoção da compreensão e validação das emoções do outro aumenta a empatia e as competências de resolução de conflitos.


Para que as crianças sejam capazes de controlar as suas emoções, o primeiro passo é saber reconhecê-las. O autoconhecimento é uma ferramenta importante para que elas consigam refletir antes de reagir, sendo assim capazes de se autorregular. Para além disso, quando as crianças não são capazes de identificar e verbalizar as suas emoções, a sua frustração aumenta, o que pode levar a que surjam birras e aumente a ansiedade. Em certos casos, a acumulação destas situações pode levar, mais tarde, ao aparecimento de Perturbações de Ansiedade e de Humor (como a depressão).

Desta forma, não devemos incentivar as crianças a não chorar, a não fazer birra, a não estarem tristes ou zangadas. Estar triste é tão natural como estar feliz. Todas as emoções são importantes, pois todas cumprem uma função e são fundamentais para o equilíbrio do nosso organismo. Sempre que uma criança se encontra perante uma situação difícil para ela, devemos validar as suas emoções, ajudá-la a identificá-las e a compreendê-las e dar-lhe estratégias para se autorregular. Devemos também reforçar positivamente todas as situações em que elas conseguem fazê-lo de forma autónoma, para consolidar as competências intrapessoais acima mencionadas.

Assim, vamos deixar de ter medo das birras, do choro e da frustração nas crianças. Vamos ajudá-las a desenvolver as suas capacidades de expressão, compreensão e regulação emocional, para que se tornem adultos equilibrados, com várias competências para lidar com as adversidades inevitáveis da vida.



Maria Constança Brandão
Psicologia Clínica| IPNP Saúde


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