O que fazer quando os filhos mentem?

Quando os pais se apercebem que os seus filhos mentem sentem-se, habitualmente, enganados, zangados, desiludidos e tendem a culpar os próprios filhos pelo sucedido. A mentira é sentida como algo que fere a confiança, base das relações humanas, e interpretada como pessoal. 

Mas que significado tem a mentira na relação entre pais e filhos?

O que devem fazer os pais para lidar com a mentira?

Será importante, antes de mais, compreender que a mentira tem uma função iminentemente social, de regular as relações, as emoções e a vida em sociedade. Como nos diz Antonino Ferro “Somos uma espécie que mente!”

É essencial também olhá-la e pensá-la como encerrando em si um espetro, que vai do lúdico (ex. brincadeira, partida, uma provocação, ...), passando por um amortecedor relacional (ex. ser totalmente transparente poderia magoar o Outro num momento mais sensível, desiludir quem se ama, ...), à mentira danosa, destrutiva e/ou autodestrutiva.

Na relação pais e filhos, a grande maioria das ocorrências são de baixa gravidade e intensidade, e muitas vezes a mentira surge porque os filhos sentem que têm de agradar os pais e corresponder às expetativas demasiado elevadas que sobre si recaem. Os filhos, recordando situações anteriores, têm receio das consequências que poderão surgir se contarem a verdade, temendo, por exemplo, um castigo severo ou uma crítica excessiva.

Castigar pode parecer a resposta mais adequada, mas talvez o mais importante seja os pais refletirem sobre a forma como comunicam e educam os seus filhos!

Sabemos que a melhor forma de procurar eliminar a mentira é agir preventivamente, é construir uma relação baseada numa comunicação positiva e verdadeira, que promova a confiança mútua. Os pais devem procurar conhecer, acompanhar e respeitar as características e idiossincrasias dos seus filhos, as fases da vida em que se encontram, e saber escutar e permitir que os filhos tenham voz e participem nas tomadas de decisão.

É igualmente relevante que as regras sejam claras e as mensagens inequívocas, mas evitando-se modelos educativos demasiado rígidos e, até, humanamente inalcançáveis (i.e. filhos e pais perfeitos). O diálogo é um elemento-chave pois permite que os filhos percecionem os pais como parceiros, que sintam que perante situações difíceis poderão ter o suporte destes para os apoiar na resolução de problemas, não temendo a censura ou o castigo.

E quando a verdade surgir, em situações em que o mais tentador seria mentir, é muito importante que os pais não se esqueçam de elogiar este comportamento pois, deste modo, irão enraizar a verdade e fazer com que os filhos se sintam compreendidos e com vontade de partilhar em futuras situações.

Vemos então que a mentira tem uma função essencial… fomentar a construção de uma relação de proximidade baseada no respeito e na liberdade!


Rita Sá e Valéria Sousa-Gomes

Consulta de Pais | IPNP Saúde

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