Funções Executivas na Infância

As funções executivas são um conjunto de funções cognitivas complexas, situadas no córtex pré-frontal (CPF), fundamentais para a capacidade de controlo e autorregulação das nossas emoções e do nosso comportamento.

A sua importância prende-se com o facto de estarem associadas a uma multiplicidade de processos cognitivos utilizados diariamente como o planeamento, a tomada de decisão, o controlo inibitório, a manutenção ou mudança do foco atencional e atualização de memória de trabalho, que nos permitem monitorizar pensamentos, sentimentos e comportamentos orientados para objetivos, com o intuito de planear e controlar com sucesso as nossas ações. 

Funções executivas e desenvolvimento infantil

Na criança, o desenvolvimento do funcionamento executivo permite:

- melhorar a capacidade de reter a resposta proponente, fazendo com que esta aprenda a reduzir a impulsividade de resposta. O facto de esperar fornece à criança maior tempo para pensar e, desta forma, poder dar uma resposta mais ajustada, o que está também associado ao controlo comportamental (ex. crianças com problemas comportamentais);
- potenciar a capacidade para armazenar, atualizar e recuperar informação, ao mesmo tempo que executa outras tarefas, ou seja, possibilita a retenção e o processamento da informação;
- o cálculo matemático, a tradução de instruções, a consideração de alternativas, incorporar novos conteúdos/conhecimentos e relacionar com outros previamente adquiridos, recordar itens, etc.. 

É, assim, essencial ao crescimento saudável nas várias áreas de desenvolvimento.

Contudo, quando existe disfunção executiva, as diferentes áreas mencionadas podem ser afetadas e comprometer o desenvolvimento saudável da criança.

Disfunção executiva: Qual o seu impacto no nosso quotidiano? 

Fazendo uma analogia entre o papel do córtex pré-frontal (CFP) e o papel profissional desempenhado por um maestro, podemos afirmar que assim como o CPF tem o papel de mediar os diferentes componentes envolvidos nas funções executivas, permitindo a sua coordenação e interligação, também o maestro coordena e integra os diferentes naipes musicais que constituem a sua orquestra, de forma a que exista um equilíbrio e harmonia musical, o que na sua ausência resultaria numa dissonância.

Neste sentido, uma vez comprometido o CPF onde estão situadas as funções executivas como, por exemplo, em casos de lesão ou disfunção cerebral, este não é capaz de coordenar todas as estruturas cerebrais, o que consequentemente se pode refletir em atrasos no desenvolvimento, nomeadamente de disfunção executiva, com consequentes problemas de regulação emocional e comportamental, atenção e concentração, falta de iniciativa, dificuldade para sequenciar ações, rigidez cognitiva, entre outros. 

A identificação precoce permite perceber quais as dificuldades específicas nos diferentes componentes das funções executivas, para uma intervenção nas áreas mais débeis, prevenindo desta forma o desenvolvimento de problemas de aprendizagem ou de comportamento.

A plasticidade cerebral é a base para a reabilitação das diferentes funções cognitivas. Por este motivo e por ser na infância que se verifica um maior nível de plasticidade cerebral, dado que o cérebro ainda se encontra em maturação, a identificação de alterações cognitivas na criança é fundamental. Uma intervenção precoce nas FE e um acompanhamento cuidado, com o objetivo de estimular a criança, nas suas áreas mais débeis, previne o desenvolvimento de problemas de aprendizagem ou de comportamento e minimiza o impacto negativo na vida quotidiana.



Cristina Silva
Neuropsicologia Clínica | IPNP Saúde

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