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Parentalidade interrompida: luto na perda gestacional

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Toda a mãe e pai tem o direito de enterrar o seu filho, mesmo aquele que nunca pode beijar, tocar, dar banho… A  perda gestacional , súbita e imprevista, pode acontecer no útero antes das vinte semanas de gestação ( aborto espontâneo ), ou suceder, após as vinte, ainda no útero, ou durante o parto ( morte fetal ). Sucede-se uma  quebra violenta e inesperada de uma ligação emocional  que tinha vindo a ser construída durante todo o período de gestação.  A relação com o filho começa a ser construída a partir do momento em que é reconhecida a gestação e não apenas aquando do nascimento. E, por isso, quando este vínculo é (inter)rompido, inicia-se um  processo de luto , de  enorme sofrimento , na maioria das vezes, e de grandes  perdas secundárias . Tomem-se como exemplos a perda de uma gravidez que se esperava normal, da identidade social de “figura parental”, da autoestima, da oportunidade de exercer a parentalidade, do sentimento de segurança e do controlo em relação à vida, assim como d

Integração Sensorial a base para o desenvolvimento da criança

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O  input sensorial  é o  sustento do cérebro , assim como o alimento nutre o corpo humano. O cérebro de uma criança em crescimento necessita de estimulação diária através do envolvimento em  experiências sensoriomotoras diversificadas durante o brincar, com intensidade apropriada às suas necessidades individuais. São vários os autores que afirmam que as experiências sensoriais impulsionam o desenvolvimento do cérebro e estabelecem as bases para o desempenho das atividades diárias e para o sucesso académico e pessoal posteriores.   Jean Ayres, terapeuta ocupacional, psicóloga Educacional e neurocientista, elaborou o seguinte diagrama acerca do processo de  Integração Sensorial,  com intuito de explicar como os diferentes sentidos se organizam e integram de forma a permitir a aquisição de competências essenciais para o desenvolvimento saudável da criança. Definiu  quatro níveis fundamentais , em que cada um destes requer domínio para uma progressão sólida para o próximo nível.  O   proce

Demência: Missão Comunicar e o POPEI

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Demência  é um termo abrangente para uma diversidade de condições médicas associadas a  processos degenerativos do cérebro . As alterações levam a um declínio em competências cognitivas, de tal forma que prejudicam a vida diária, a independência e a comunicação. As demências mais comuns são a doença de Alzheimer e a demência vascular. Atinge mais adultos idosos, mas  não faz parte do envelhecimento normal .   Como é que a demência afeta a comunicação? O nosso cérebro é uma série de caminhos com cruzamentos, entroncamentos e atalhos. A demência afeta esta rede de neurónios, o que pode dificultar a expressão e a compreensão do que os outros dizem.  Podemos encontrar alguns sinais como: -  Dificuldade em encontrar as palavras -  Usar repetidamente as mesmas palavras -  Descrever os objetos em vez de os dizer pelo nome -  Perder facilmente o fio à meada -  Dificuldade em organizar as palavras com lógica -  Começar a falar só na língua materna -  Falar menos -  Usar mais gestos do que comun

Espelho meu, espelho meu! Haverá algum livro melhor que eu?

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Um  livro  tem uma  identidade própria ,  tem sonhos : de ser lido, de ser gostado, de passear pela mente de quem o escolhe e ser ponte para outras proezas. Mas como “viaja” um livro pelo nosso cérebro? Que impacto têm nas estruturas cerebrais e no funcionamento psíquico? Será que o livro está obsoleto ou, pelas suas características únicas, permite ativar lugares em nós que de outra forma permaneceriam adormecidos?   O  livro tem a ousadia e o sortilégio  de ativar inúmeras e complexas regiões cerebrais, anatomicamente distantes entre si e que a continuidade, inerente à história, permite depois ligar. Senão, vejamos!    As palavras são vistas pelos  olhos  e só depois reconhecidas e lidas pelo cérebro. Aí o seu significado vai ser interpretado pelo  sistema ventral  e o  sistema posterior  vai ligá-las entre si numa sequência coerente. Mais, cada palavra vai fazer emergir imagens dentro de nós, que nos são únicas porque se relacionam com a nossa própria história! Por exemplo, será que

Medicação ou Psicoterapia?

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A   relação entre o tratamento Psicofarmacológico e Psicoterapêutico   foi, ao longo dos anos, sofrendo períodos de maior atribulação, com visões que alternadamente foram opondo as duas abordagens de forma mais ou menos   radical e reducionista .   Estas posições podem, de certa forma, colocar-se em dois extremos: um que defende que todo  o adoecer mental  resulta de um desequilíbrio eminentemente  “orgânico ” e segundo o qual a experiência é, em última análise, redutível aos fenómenos biológicos que ocorrem no cérebro, e outro segundo o qual todas as alterações observadas são produto de uma  personalidade vulnerável  cujo desenvolvimento acaba por desembocar em doença quando sujeito a determinados contextos  stressores . Este posicionamento dualístico tem, até certo ponto, origem na História da Psiquiatria e Psicologia. A formulação no início do século XX, por S. Freud, da teoria psicodinâmica do desenvolvimento psíquico e personalidade, “mãe” das abordagens psicoterapêuticas, gerou o

O excesso do Outro no Eu

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Embora a investigação e as consequentes propostas de intervenção teóricas, cívicas e políticas incidam, cada vez mais, na análise do   envelhecimento e nos modelos e conceitos a ele associados , a verdade é que há ainda muito a fazer no que respeita ao apoio que, impreterivelmente, tem que ser dado ao   Cuidador.   Apoiar o cuidador exige sensibilidade para o reconhecimento do  Eu , antes do  Outro .  Quando um avião entra em turbulência, a máscara de oxigénio deverá ser colocada, primeiro, em mim, e só depois no dependente que vai ao meu lado, sob o meu cuidado.   A premissa básica desta regra, conhecida por todos nós, é que eu tenho que me manter seguro, consciente e autónomo para poder ajudar quem está ao meu lado.   Será que se tem pensado no bem-estar do cuidador? Qual o impacto que um processo de prestação de cuidados pode ter no Eu? Como reconhecer e monitorizar o processo dinâmico que oscila entre a autonomia e o comprometimento, não raras vezes excessivo, o que leva à rápida e

Cansado/a de discussões?

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Com o passar dos anos,   muitos casais deixam que a sua relação mergulhe numa espiral de negatividade , da qual se torna difícil vislumbrar uma saída.   As discussões tornam-se frequentes, pautadas por agressividade e trocas de acusações.   Cada elemento vai-se sentindo, progressivamente, mais sozinho , incompreendido e cada vez mais distante do/a seu/sua parceiro/a.   A   investigação mostra-nos que existem diversas estratégias   que poderão ser utilizadas pelo casal, de modo a alterar o desconforto emocional sentido (Gottman & Silver, 1999). Vejamos uma delas!   É provável que as discussões façam com que se sinta emocionalmente e fisicamente esgotado/a. Elas têm reflexo no seu organismo, pois o corpo fica tenso, acelerado e a respiração altera-se. Sabemos, por exemplo, que se o ritmo cardíaco está excessivamente acelerado não será possível ouvir o que o/a seu/sua companheiro/a lhe tenta dizer. Deste modo,   ser capaz de parar a discussão é muito relevante, podendo explicar que ne

O lugar do erotismo

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Harmonizar a  vida doméstica  com a  vida erótica , implica um equilíbrio delicado que, ao contrário do que seria desejado, apenas se alcança de forma intermitente. A distância e a comunhão alternam-se, e espera-se que o   Desejo resista ao confinamento e que o compromisso não engula toda a liberdade da (e na) relação.   O erotismo entre portas exige empenho e intenções deliberadas, ao contrário do “ mito da espontaneidade ”, que muitos casais utilizam como “bandeira” do arrefecimento da relação. A ideia de que o casamento é algo sério, que implica mais trabalho que brincadeira, não dando lugar à paixão que é (foi) coisa de adolescentes, cria resistências. Queixamo-nos de   tédio sexual , mas o   verdadeiro desafio é alimentar o erotismo   da relação em pleno contexto familiar, o que implica esforço, tempo e total consciência do que estamos a fazer.   Então,  e se olhasse o/a parceiro/a como uma refeição gourmet?  Daquelas que nunca experimentou, mas que está disposto/a a elaborar? A v

A Voz por trás da máscara

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São muitas as   exigências a nível vocal com a utilização da máscara . O esforço realizado para falar é acrescido e, por vezes, não estamos preparados para proteger devidamente a nossa   voz!   Para muita gente esta barreira física veio impor algumas   estratégias compensatórias , nem sempre adequadas, associadas à intensidade vocal e à coordenação entre a fala e a respiração. Estas compensações podem acarretar um conjunto de comportamentos de abuso e mau uso vocal e levar a alterações significativas na qualidade da voz. As   queixas mais frequentemente apresentadas   por algumas pessoas têm sido o cansaço ao falar, a rouquidão e a dificuldade em projetar a voz.       Algumas dicas:   •  Fale pausadamente, de forma a permitir uma boa movimentação das estruturas orofaciais e uma respiração mais profunda, para uma melhor precisão na articulação das palavras;     •  Beba bastante água durante o dia;   •  Tente manter o tom natural da voz;   •  Faça repouso vocal sempre que possível.     

Quando é que a criança começa a formar memórias?

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Importa antes de mais clarificar que temos  vários tipos de memória  e podemos sistematizá-las por exemplo de acordo com a forma como as codificamos e relembramos:  memória consciente  (explícita) ou  inconsciente  (implícita). Ou seja, se eu aprendo e recordo com esforço, com  estratégia , pensando ativamente sobre isso, recorro à memória explícita ou declarativa que, por sua vez, se divide em  memória semântica ou episódica , ou seja, a capacidade de   aprender novo vocabulário ou memorizar sequências de eventos .   Se uma memória surge subitamente na consciência sem que eu tenha pensado nisso recorro à  memória   implícita , é o caso das   mnemónicas , da memorização de números de telefone ou nomes de pessoas, i.e. “eu sei porque sei”. É também o caso da  memória procedimental , não penso na sequência de movimentos necessários para andar de bicicleta, simplesmente ando.   Podemos ainda organizar as memórias de acordo com as suas  características sensoriais , lembramos imagens, texto

Quando o medo também vai para a Escola!

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A   adaptação a novos contextos   pode ser mais difícil para algumas crianças, que pela sua personalidade e experiências anteriores, podem revelar   traços mais ansiosos . A adaptação a uma nova escola ou uma nova turma, pode traduzir-se em algumas dificuldades na gestão da ansiedade ou medo que, se não forem trabalhados, poderão gerar quadros de   fobia escolar .   Numa situação de fobia escolar, as crianças geralmente sentem um   medo incontrolável e excessivo de situações escolares , que dificultam significativamente a sua ida ou permanência na escola. A sintomatologia associada assume, habitualmente, a forma de queixas de dores de barriga, tremores, vómitos, dores de cabeças e diarreia. Estes sintomas intensificam-se na véspera ou horas antes de ir para a escola. Paralelamente, poderá também surgir a falta de apetite, o medo de dormir sozinho e os pesadelos.   Recorrentemente, estas queixas são o  reflexo da antecipação de cenários de ansiedade , evidentes dias antes de irem para a

Depressão pós-parto e relação mãe-bebé

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A  gravidez  é um  momento único e individual , sentida e vivida de forma diferente por todas as mulheres. Algumas mulheres só se sentem mães após o nascimento do bebé, outras entram num estado de identificação com o bebé que carregam dentro de si assim que sabem que estão grávidas. É uma fase de grandes mudanças e desequilíbrios internos, hormonais e psicológicos, em que a mulher revive alguns experiências prazerosas e conflitos anteriores, requerendo uma  reconstrução e nova adaptação psicológica  a um novo sentido do Si e do mundo.   Após o nascimento do bebé, a  mãe desenvolve uma nova organização mental   que se conecta com as necessidades do recém-nascido. Contudo nem sempre assim acontece sendo que esta é também uma fase de grande vulnerabilidade para a mulher que muitas vezes se vê só e incapaz de cuidar do bebé.    A  depressão pós-parto  afeta entre 10% a 20% das mulheres, podendo apresentar-se através de características típicas da depressão, tais como: tristeza, choro, insón